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A LUZ QUE NÃO VEMOS
"Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", este é o nome do filme ganhador do Oscar 2023.
Em algum momento, neste mês, decidi assisti-lo. Sentei-me ao lado da minha filha, numa noite de sábado, resolvidas a enfrentar a maratona de 2 horas e 19 min. do que seria, de acordo com a cerimônia do prêmio, uma verdadeira obra prima.
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Um filme, sem dúvida, longo, repleto de cenas inusitadas, que, para os menos observadores, pareceria uma chuva de loucuras sem o menor sentido.
Nossos pensamentos a princípio: "Que filme mais doido!" "Não é possível que esse filme tenha ganhado o Oscar."
Muito dinâmico, com um roteiro inacreditavelmente criativo, o filme aborda, de forma cômica, e um tanto lúdica, assuntos da mais alta relevância.
E, eis que conseguimos olhar além das bizarrices e perceber a genialidade por trás de todo aquele emaranhado de acontecimentos.
Em nossas percepções, fomos tomadas por diversas emoções, ao nos deparar com a representação de uma realidade invisível aos olhos da sociedade.
Trata-se de um único assunto de alta relevância, mas que desfila no mais completo anonimato. Caminha nas sombras, estando sempre no ponto cego da visibilidade humana.
Mãe, mulher, esposa, filha e profissional. Uma imensidão de papéis em uma única pessoa. Como um equilibrar de pratos da sua própria existência, a mulher que acaba de receber um pedido de divórcio, ao mesmo tempo em que cuida do pai doente em casa, de uma empresa falida e endividada, e de uma filha que anseia por aprovação e amor, prestes a se perder em um colapso emocional.
Cansada, ferida e sem tempo para cuidar de tudo, seus inúmeros papéis muito mal desempenhados, entram em erupção, e tudo que precisa ser curado, vem à tona.
Lidar com um pai extremamente machista, e preconceituoso, que não consegue enxergar o valor da filha, por ela ser mulher. Um marido que não se sente valorizado ou amado, porque não recebe a atenção que gostaria. A empresa que não prospera, porque a administradora não consegue fazer tudo que é preciso, com o nível de excelência exigido para essa função. Uma filha, que se sente negligenciada e não se sente aceita, que pede socorro do jeito que ela consegue. Tudo isso regado a muita culpa e uma solidão absurda.
Em algum momento do filme, a gente para e respira fundo. Solta um suspiro de desespero por causa daquela mulher, e por tantas outras que reproduzem esses padrões tão desafiadores.
Em outro momento, a gente se reconhece naquela mulher, e solta outro suspiro.
Ao final, nos sentimos impactadas, reflexivas. Porque nos deparamos com essa realidade tão presente e ao mesmo tempo, ocultada pela total desvalorização da figura representada por essa mulher, cujo olhar não mais brilha, pois, se sente ferida e sobrecarregada todo o tempo. E cuja existência representa nada menos que uma luz para a humanidade. Já que sem elas, talvez, nada mais resistisse.
"A mente dela explora todos os mundos, todas as possibilidades, ao mesmo tempo, comandando o saber infinito e o poder do multiverso."
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Ela não recebe ajuda, somente cobranças que chegam de todos os lados e formas possíveis.
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, projeta luz sobre essa imensidão de realidades vivenciadas e equilibradas por tantas. E levanta um questionamento válido, gritando por todos cantos do mundo, que esta mulher existe em incontáveis versões, e seu pedido silencioso por ajuda ecoa pelas ruelas escuras e solitárias da existência de cada uma delas.
Afinal, como corresponder com excelência a tudo, em todo lugar, ao mesmo tempo, e não esbarrar na vulnerabilidade ou na mais completa incapacidade de abraçar o mundo inteiro?
Gratidão por ler até aqui!
Com amor.
Até Breve.
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Ainda sem avaliações
Eu amo a forma como você usa as palavras, a forma como você expressa seu olhar. 🥰🥰👏🏼👏🏼✨✨
E, além de lidar com todas essas questões que você descreveu, a protagonista ainda descobre a realidade do multiverso. Fica mesmo complexo! Bom filme e bom texto! Carla Kirilos 🌺
Uau! Sua escrita é mto potente! Parabéns!!
O universo feminino,no nosso contexto social,é escandalosamente desafiador e não perdoa a mulher que não se enquadra na definição de mulher perfeita,criada por um sistema patriarcal - um sistema que nos escraviza.
Namastê!