APRENDER A ENVELHECER
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Estamos iniciando mais um ano por aqui no Bendita Existência, e quero começar com um tema que, para algumas pessoas, é pesado e difícil, mas que pode ser leve e indutor de grandes mudanças e novas descobertas - o ENVELHECER.
Este é um tema que venho estudando e vivenciando de várias formas e em diferentes contextos. Foi me dado o desafio de coordenar um grupo de 60+ e tem sido muito enriquecedor e de muito aprendizado. Assim, vamos falar sobre essa temática em vários ângulos, neste e nos próximos textos aqui.
Falaremos sobre este tema, considerando o marco de 60 anos, dado que, é aos 60 anos que nos tornamos um idoso, por decreto rsrsrsrrs.
Aprender a envelhecer é um processo profundo e, muitas vezes, desafiante, e que envolve ter que se haver com mudanças no corpo, na mente e no espírito. E, ainda, no modo de viver, na rotina e principalmente na relação com o trabalho.
As estatísticas mostram que há um envelhecimento progressivo na população mundial, e no Brasil já somos 15,6% da população. Mas, outro dado, estamos vivendo cada vez mais, mas será que estamos vivendo melhor?
EXPECTATIVA DE VIDA E APOSENTADORIA
Nos anos 80, a expectativa de vida no Brasil estava em torno de 64 a 65 anos, com diferenças significativas entre as regiões urbanas e rurais, além das condições socioeconômicas; de todo modo não se esperava viver muito depois dos 75 anos. Assim, as pessoas se aposentavam e viviam mais oito ou nove anos. Após a aposentadoria, iniciava-se um caminho de declínio, com total falta de interesse em buscar atualizações ou novos aprendizados.
Hoje, os estudos apontam para uma maior longevidade, uma vez que há o imenso avanço da medicina, com nanorrobôs provendo tratamentos inimagináveis, até então. Assim, se se aposenta com 55 anos, pode-se viver mais 30 ou 40 anos. Não vamos morrer mais tão cedo quanto nossos pais ou avós. O que faremos neste tempo?
Vamos tapar os olhos e ouvidos para o que se passa ao nosso redor? Não vamos querer aprender mais nada? Não vamos buscar o sonho de um curso universitário, ou um novo título, ou uma mudança de carreira? Aprender uma nova língua, a nadar, pedalar, mergulhar, visitar antigos sonhos e desejos que ficaram para trás?
À medida que a expectativa de vida aumenta, precisamos refletir sobre como a aposentadoria, um momento tradicionalmente visto como um fim de ciclo, se transforma em uma nova fase da vida. Paul Tournier, médico, psiquiatra e psicoterapeuta suíço, em seu livro, Aprender a Envelhecer, nos mostra a importância de nos prepararmos para a aposentadoria e o envelhecer já na casa dos quarenta anos. Neste tempo em que se está no auge de uma carreira, e de vivências sociais intensas, é o momento de dar importância gradativa a outras possibilidades que poderão vir a ser as mais significativas quando a aposentadoria chegar.
DEVER E APOSENTADORIA
Fomos ensinados para super valorizar o trabalho e o dever. Quanto mais entediante e desumano, mais digno. O que dá dignidade ao homem é o cumprimento do dever, o penoso trabalho. O trabalho que dá prazer, este nem é considerado valoroso. Dentro dessa ética todo prazer é suspeito.
O sistema capitalista implantou a "cultura do trabalho", na qual o trabalho é central para a identidade e o valor das pessoas. O trabalho torna-se medida de sucesso e, muitas vezes, as pessoas se sentem definidas por suas ocupações e pela quantidade de horas que dedicam ao trabalho. E, hoje, mais ainda, somos definidos pelo que temos e não pelo que somos. O ter prevalecendo sobre o ser.
Como pensar a aposentadoria neste contexto? Quando é hora de parar? O que vou perder? Como serei visto? O que quero fazer?
Passar do trabalho como dever para a aposentadoria é um processo de adaptação que exige um olhar equilibrado sobre a vida financeira, emocional e social. Por isso é tão importante planejar com antecedência, buscar novos significados para a vida e aprender a aproveitar o tempo de maneira plena. A aposentadoria pode ser uma fase rica de descobertas, autoconhecimento e novas experiências.
Que a vida nos empurre e que sejamos obrigados a buscar novas saídas, e que estas não sejam novas prisões para o velho homem que sempre fez tudo pelo dever.
Para você que está no topo de sua carreira e de sua vida, ou para você que está próximo de se aposentar, gaste um tempo para buscar dentro de si as coisas que verdadeiramente lhe agradam e ainda estão escondidas ou até mesmo rejeitadas.
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Aceito de boa que estou na velhice e amando muito essa fase de vida. Embora, quero ainda concluir muitos projetos em todos os sentidos, já me sinto realizada, ou seja, missão cumprida. Quando penso na liberdade que tenho, não ter que dar satisfação a ninguém, no sentido de que sou independente. Filhos criados, apenas uma oração pra eles na hora de dormir, não ter responsabilidade com netos, pois seus pais os amam e cuidam tanto que não sobra para mim. Só o dever de lhes dar carinho, abraços apertados e beijos. Presença e conselhos. Então, essa fase é boa demais. Sinto meu corpo um pouco cansado, mas o espírito cada dia mais forte, sábio, renovado, caminhando e dizendo: quero mais…
Envelhecer é um grande desafio dentro de uma sociedade que valoriza o que é novo.
Namastê!
Li seu texto e me inspiro por uma frase de Salmos 92:14, "Na velhice ainda darão fruto; estarão viçosos e florescentes".
Na verdade, nosso valor não está atrelado a um número ou a uma aparência, mas às experiências e aprendizados que acumulamos ao longo da vida. Beijocas, Carla Kirilos