CAMISA POLO AZUL
Mãe é algo, definitivamente, inexplicável. É como ser uma célula que se renova a todo instante.
E a cada instante, todo o aprendizado se desfaz e tudo se reinicia para viver o momento presente.
Mãe é uma substância em constante experiência:
Chegamos em casa, e não troquei a roupa do meu filho, como sempre fazia. Fui direto para a cozinha preparar o almoço.
Pica daqui pica dali...E de repente, paro para escutar os barulhos da casa e me espanto com o silêncio.
Como assim?!
Dois pequenos dentro de casa... Desliguei as panelas e assim que entrei na sala, o caçula, de 03 anos, estava parado, como uma estátua, na porta do escritório.
Já percebendo que algo estava muito errado, agachei perto dele e perguntei:
- Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Ele nada respondeu. Então, comecei a percorrer as mãos pelo corpo dele, tentando descobrir algo irregular...Enquanto meus olhos tentavam encontrar algum detalhe estranho na roupa dele.
E eis que descubro a falta de um botão, na sua camisa polo azul.
- Onde está o botão? – perguntei.
Ele levantou o dedinho e apontou o nariz.
- Você colocou o botão dentro do nariz?!
Ele confirmou com a cabeça.
A irmã escuta e entra em prantos:
- ELE VAI MORRER?!
- E descontrolada, permaneceu chorando.
- Filho, preste atenção: vou tapar uma narina e você vai fazer o movimento como se fosse espirrar. Entendeu?
E assim fizemos três vezes. Nada!
Peguei ele no colo e disse:
- Vamos tentar resolver na farmácia.
E deixando a filha chorando, fui para a farmácia que era uns 5min de casa.
- Não temos como resolver, você terá que ir ao hospital.
Retornei fazendo discurso na cabecinha dele:
- Agora é o seguinte, vamos para o hospital e lá não sei explicar como vão tirar esse botão. Você vai ter que aguentar, porque esse botão não pode ficar aí, entendeu?
Quando cheguei em casa, abri o portão, a irmã estava em prantos, na porta da sala, abraçada a um porta-retrato do irmão – que ela lutou sete anos para ter - e soluçando, perguntou:
- RESOLVEU?
- Não! Vamos para o hospital.
E aí, acredito, que todos os vizinhos escutaram o choro dela.
Coloquei ele no meio da sala, agachei e calmamente falei:
- Filho, vamos tentar, pela última vez. Vou tapar uma narina e você tenta espirrar, combinado?
E quando assim fizemos, vimos o botão voar e escutamos o barulho dele batendo na parede.
A irmã deu um grito:
- GRAÇAS A DEUS!
E se jogou no chão.
Sentei naquele piso, naquela sala, naquele instante e olhei para eles...
Levantei. Tirei aquela camisa polo azul tão linda que realçava as bochechas vermelhas dele e que eu adorava...
Tirei como se ela fosse uma arma letal.
Peguei a camisa e arranquei o outro botão e nunca mais coloquei nele uma camisa com botão.
Que mais posso dizer?
Consegui sobreviver, mais uma vez, a um momento torpor que invade as histórias tecidas por filhos e mães.
“A aranha dorme em sua teia, lá fora, entre a roseira e o muro.”
Cecília Meirelles
FELIZ DIA DAS MÃES!
NAMASTÊ!
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Coitada dessa irmã!!! Hahahahahaha
Na verdade, na última tentativa eu deu a sorte de espirra de verdade mesmo!!
Que sufoco! É preciso ter muita calma nessas horas, e vc teve.
Nossa Senhora ,mãe de todas as mães esteve presente com certeza nesse momento aflitivo que você passou minha querida irmã.
O seu texto, Miga, reforça e acentua o que cada mãe tem de mais curioso: sabedoria!!!!! Lindo texto!!!!!