CHUVA INUSITADA
Tempo de chuvas torrenciais – aquelas que cruzam nosso caminho variadas vezes e nos faz abrir e fechar sombrinhas, continuadamente...
Há momentos em que ela, a chuva, anuncia chegada, outras simplesmente cai...
![](https://static.wixstatic.com/media/44bda1_130a9d026ecf4c63a767e3e2c6821af1~mv2.png/v1/fill/w_541,h_399,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/44bda1_130a9d026ecf4c63a767e3e2c6821af1~mv2.png)
Tantas chuvas já caíram na minha vida, mas nunca uma de forma absolutamente surpreendente e inimaginável...
Ela chegou de frente, de forma imbatível como se viesse ao meu encontro.
Assim!
O céu era de sol fraquinho, quando desci do ônibus e ao dar uns doze passos e virar a esquina, foi como se eu entrasse em outra dimensão...
OUTRA DIMENSÃO!!
A Dimensão da Chuva, porque tudo escureceu, anoiteceu num abrir e fechar de olhos e ela, como temporal, tomou conta do momento.
Perdi a noção de espaço e tempo, no meio de algo inexplicável.
E, parada com os braços para cima, meio atordoada, sem saber se seria engolida ou não, girei sobre o meu próprio corpo, retrocedi, já completamente encharcada e entrei debaixo de uma marquise – sob a mudança daquele céu que nunca conseguirei explicar.
E sem me atrever a pedir explicação sobre o que foi aquilo, olhava para aquela enxurrada que descia a avenida com força capaz de arrastar um vilarejo.
Tudo estava totalmente dominado pela presença forte daquela chuva tão imbatível e admirável que me encontrou na virada de uma esquina.
Na marquise, de repente, percebi um jovem com o olhar sorridente também encantado com aquela chuva.
Nos entreolhamos e sorrimos como alguém cúmplice daquele momento.
E comentários que nada acrescentariam ao que tínhamos presenciado, verbalizamos:
- Você está de moto. Cuidado!
- Pode deixar!
- Que chuva foi essa!!
- Surpreendente, não é? Minha roupa de chuva está aqui!
- Você sabe que é mês de se prevenir!
E ele respondeu com um sorriso que iluminou seu rosto.
Desviamos nosso olhar para a chuva e ela não era mais implacável.
Voltamos a nos olhar e ele disse:
- Tchau! A chuva está passando, já posso ir!
- Tchau! Cuidado com o asfalto molhado!
- Vou cuidar!
E vi aquele jovem tão fofo e sorridente saindo daquela Dimensão e entrando no asfalto molhado, iluminado por faróis.
Olhei em volta, ainda sobre o efeito daquele fenômeno, e no sentido contrário à enxurrada que ia diminuindo aos poucos, subi a avenida, com o cabelo escorrendo água daquela chuva que veio ao meu encontro e, por uns minutos, me tirou a noção de tempo e despertou meu olhar poético:
“Eu não fugi das minhas tempestades.
Eu fiquei para lavar a alma.
E de chuva em chuva,
Aprendi a ser Sol.”
Quando o indizível acontece, a poesia aparece para contemplar nossas emoções e, nessa hora, o que nos resta, é admirar o poder do Universo.
Que chuva foi aquela que caiu tempestuosamente, deixando rastros azulados no céu e aquele amarelado de dia entardecendo como se me dissesse que tudo foi pintado com o mesmo pincel.
Subi a avenida sentido o poder daquela chuva tatuada no meu corpo encharcado pela roupa molhada, sentindo que a vida era uma lindeza só.
E com os olhos iluminados pelo brilho dos faróis no asfalto, cheguei em casa e tudo que eu conseguia sentir era parecido com Clarice Lispector:
“Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”
NAMASTÊ!
Não se esqueça de deixar um comentário, e seguir nossas redes sociais:
![](https://static.wixstatic.com/media/44bda1_dbcb416b8ec84cd19276bd39b3397178~mv2.png/v1/fill/w_980,h_454,al_c,q_90,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/44bda1_dbcb416b8ec84cd19276bd39b3397178~mv2.png)
"Se os seus olhos forem bons, tudo será bom". Os imprevistos (tempestades) da vida podem abrir os nossos olhos para a beleza oculta, podem nos ensinar algo que ainda não aprendemos e até mesmo despertar o nosso olhar para a necessidade do outro versus nosso lugar de privilégio (caso das tragédias). Amo a poética do seu olhar, Beth!
Você sempre arrasa!!
Que pintura linda de guarda chuvas coloridos surgiu desta inesperada tempestade…
Beth, seu texto sobre a chuva me fez lembrar do Rio Grande do Sul. Fico imaginando: a chuva que é fonte de vida, é também de tormentos e morte. Quem é o autor disso? O homem ou Deus?
É quando somos abraçados pela chuva.