COLHER FELICIDADE

E, de repente, a gente se percebe sorrindo.

Alguns encontros são como primaveras na vida de quem os vivencia. É como se florescessem, e favorecessem um desabrochar na nossa existência. Deixam um perfume bom, suave, de harmonia e leveza, que não nos permite esquecê-los.

Bem no meio de meus afazeres diários, a mente sobrecarregada com inúmeras situações, e decisões de extrema importância que permeiam minha existência nesse momento, ocupações e pre-ocupações, emoções à flor da pele… Percebo-me tomada por um pensamento que, sutilmente, me envolve como um abraço generoso - lembrei-me de alguém e sorri. E essa percepção me levou a outra, não menos importante, sobre o tamanho do privilégio de sorrir ao se lembrar de alguém.

Um precioso momento em que você descobre o quanto gosta de alguém.

Aquela sensação de descoberta de pertencimento, quando você se diz: “Nossa, como eu gosto dessa pessoa!”, ou “Como essa pessoa me faz bem!”. Isso, às vezes, acontece enquanto você olha para as pessoas durante uma roda de conversa, sentada à mesa em um jantar, ou ao se despedir, quando olha as costas das pessoas indo embora depois de tê-las encontrado. Mas, dessa vez, aconteceu comigo como uma rachadura no tempo, através da qual eu olhei, e vi.

Entreguei-me a esse pensamento. Parei, respirei por um instante, enquanto outro pensamento me ocorria: A qualidade das minhas escolhas de convivência justificam meu sorriso ao me lembrar de momentos com elas. Isso diz muito sobre mim. Fez-me pensar sobre a importância da qualidade das lembranças que tenho com as pessoas, sobretudo, a qualidade das lembranças que eu escolho cultivar. E quanto posso colher de felicidade nisso.

Eu sorri ao me lembrar. Eu sorri.

E, naquele instante em que sorria, não havia espaço para outras ocupações, ansiedades, cansaços… somente para o sorriso largo e sincero que minha alma emitia. Naquele instante, eu vencia, ao me desprender do caos. Emergia para respirar.

Depois disso, vi-me interagindo com minhas memórias mais gostosas. Gargalhadas homéricas, momentos de êxtase, alegria intensa, sonhos realizados, dever cumprido… Inúmeras lembranças de sensações maravilhosas, com personagens incríveis, mas que, em minhas memórias, eu protagonizei. Porque eu estava lá - em todas elas. Só as tenho porque as vivi.

Não permitir que, o que nomeio aqui como encontros primaveras, se percam em nossas memórias, é a forma como honramos o que podemos chamar de nossas pessoas primaveras - aquelas que nos esperam na janela quando sabem que vamos chegar, as que preparam sua melhor comida para nos agradar, as que nos ouvem quando temos algo a dizer, as que esperam com paciência quando não estamos dispostas a interagir, aquelas de quem amamos a companhia.

É mais que um privilégio tê-las em nossas memórias.

Porque, cada momento com elas, faz florescer em nós a melhor parte de existir. Uma parte de doçura e alegria, que muitas vezes, mergulhados no caos, não nos permitimos lembrar. Mas, as memórias estão lá para nós, todas as vezes que quisermos acessá-las.

E eis que, instantaneamente, nossa alma se preenche de sorrisos, nossos lábios se rendem à emoção, e não temos alternativa, senão… colher felicidade.

Gratidão por ler até aqui!

Até breve! Até muito breve.

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