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CONEXÕES

Foto do escritor: BETH BRETASBETH BRETAS
Numa tarde na Espanha, sentada num banco da rodoviária de Málaga aguardando destino Almería, tudo parecia fora de conexão.

Só que não!

Nas vitrines a Época Medieval continuava presente no tempo, que mapeou os caminhos dos séculos que passaram arrastando suas convicções.


Cores, marcas, símbolos, logotipos, logomarcas...


São séculos que permanecem projetando sombras sobre o mundo que estava ali, ou não estava, na Espanha...


Em pleno verão europeu - com temperatura de 40º - onde pessoas circulavam entre a porta do ônibus que se abria e se fechava, fechava e se abria para passos que subiam, passos que desciam...


Meu olhar seguiu, por instantes, a voz suave da anunciante, se espalhando pelo ambiente desse solo que não era meu.


E em frente à minha cadeira, numa cabine, meu olhar encontrou um pequeno cartaz anunciando que havia um homem bonito e jovem DESAPARECIDO, desde 2010.


Doze anos se passaram e a presença daquele cartaz me dizia que a esperança de quem o procurava, persistia.


Enquanto, à minha volta, pessoas conversavam sem que eu pudesse entender os mistérios entrelaçados entre malas de todos os tamanhos e cores que circulam no entardecer.


A África estava presente. O Japão também! A Alemanha, a Coreia, a França, a Itália...

E o Brasil observando todas as nacionalidades que desfilavam ali.


As moças de burca, o jovem branco de coque, o homem careca, a menina de trança, a mulher tatuada, o grupo de noviças, o rapaz negro de turbante, o garoto ruivo do violão, o bebê japonês, os franciscanos, o casal de adolescentes, tão apaixonados ...


No mesmo espaço e no mesmo horário, tantas nacionalidades estavam fora das fronteiras.


Seja de tecido liso, de bolinha, xadrez, listrado, floral, jeans...


Existia vida na escolha de cada um que passava por onde eu procurava pela conexão de todas as coisas, no mesmo instante, em que uma mulher passou correndo com seu macacão vermelho.


Salve o que há dentro de cada passo, nos muitos passos que existiam naquela rodoviária.


Alguém com dor na perna, sentou-se no chão, fazia massagem, enquanto seus olhos azuis declaravam a intensidade da dor.


Lembrei da minha menina e do meu menino que sabiam que eu estava ali e torço por jovens que sentem dor.


Meu olhar voltou a vagar pelo ambiente e se deparou com o rosto do garotinho debruçado sobre a geladeira à espera do sorvete...


Olhei para o seu acompanhante que estava distanciado e ao celular...E vi aquele garotinho confiando em alguém que não deveria confiar.


Tantos desafios e carências diferentes se manifestavam ali.


Um rapaz passou carregando experiência dentro da sua mochila de mochileiro, enquanto os destinos iam se cruzando pelos degraus da escada rolante...


Há quem cruze aqui, há quem cruze ali, há quem não cruze de forma alguma.


Um grupo de turistas atravessou a rua que não era sua, não era minha, nem do turista nem de ninguém.


A presença da música e do vento suavizavam as horas desse tempo.


No banco ao lado, de repente, três alegres jovens, inocentes sorridentes confiavam num idoso que agradavelmente se aproximou. Conversavam, elas se entregavam e eu não sei se o perigo que pressenti estava no idoso ou estava em mim.


Tanta gente bonita e jovem querendo ser feliz!


E frente ao mundo novo – que não era novo – descobri que podia existir fora das minhas limitações, em busca da conexão que existe entre todas as coisas.


E o que era novo não era a busca nem as coisas existentes, era a percepção do território, era o portal na minha mente.


Salve as possibilidades de todas as coisas que estão no meu AGORA - esse tempo sem conjugação que já deixou de estar no agora, por estar registrando memórias.


E neste contexto ora o verbo está no presente, ora no passado, porque tudo já está na memória do tempo.


Volto naquele momento:


O ônibus chegou!


Levanto, coloco a mochila nas costas e a mala puxo com a mão...


Sigo sem descobrir o nada ou o tudo que estava dentro daquelas horas.


Sigo meu destino de coração aberto como Mário Quintana:


“A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,

Como se estivessem abertos diante de nós

Todos os caminhos do mundo..."


NAMASTÊ!


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5 Comments

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Guest
Jun 25, 2023

Lindo texto de observações,maturidade e paz.

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Guest
Jun 16, 2023

👏👏👏👏👏

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Guest
Jun 16, 2023

Conexões, viagem...

Enriquecedor.

"Todos os caminhos do mundo"...

Pra variar, você carrega os seus escritos com muita sensibilidade e sentimento.

Parabéns!

Um grande abraço.

Coracy.

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Guest
Jun 16, 2023

O bom da vida é abrir espaço para todas as possibilidades e conexões. Viva a vida! Carla Kirilos

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Guest
Jun 16, 2023

Conexões, que texto bom de ser lido e , principalmente, ouvido. Amei!

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