DIAS ROTINEIROS
- BETH BRETAS
- 17 de abr. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de mai. de 2024
Talvez, esteja nesses dias a paz que tanto buscamos.
Sobre isso me pus a pensar depois de assistir ao filme DIAS PERFEITOS, indicado por uma amiga.
Estou renovando meu conceito sobre dias considerados infrutíferos...
E foi de forma muito interessante que tudo bagunçou na minha cabeça, ao sair de casa para assistir ao filme.

O meu corpo estava febril, ora perdia a noção do tempo, ora me imaginava sendo vista como um zumbi perambulando pelas ruas...
Ao chegar ao Cine Belas Artes, depois de ter descido no ponto errado e caminhando mais do que deveria, na sala de espera, fechei os olhos e as pessoas em volta, muito próximas, me observavam ou não...
E nada disso importava ou me incomodava, enquanto aguardava DIAS PERFEITOS.
Nunca havia imaginado que fosse possível ver a rotina de forma positiva, porque são dias para os quais não damos importância, eles se arrastam sem nenhum pensamento revolucionário ou inovador.
Sim! Viver sem possuir pensamentos ou atitudes revolucionárias ou inovadoras não faz parte do Sistema Capitalista!
E frente a isso, precisamos aprender que dias comuns podem ser maravilhosos, incríveis por não serem reconhecidos pelo sistema.
“Cuidado para não perceber tarde demais que os dias comuns são extraordinários.”
O filme apresenta uma rotina em movimento, cenário em movimento que não se arrasta na forma como vemos a rotina.
A narrativa carrega uma ideia nova sobre o cotidiano no passar das horas que não nos surpreende - nada de grandioso interrompe os dias do personagem que aceita o previsível no relógio programado para despertar, todos os dias.
A minha febre se misturava com as cenas rotineiras do personagem que nada pedia em troca e, entre a tela e os meus olhos, as horas mergulhavam em estado moroso, mas não a ponto de perder o entendimento sobre o filme.
O enredo acompanhado por uma trilha sonora maravilhosa acontece em tecnologia ultrapassada – seria o protagonista alguém preso ao passado?!!
Há indícios de que ele tenha um passado com traumas que o ensinaram a viver sem expectativas…
A cena final, o acordar para mais um dia sem desejos, nos apresenta um lindo amanhecer e que talvez, seja essa a grande mensagem do filme: percebemos o verdadeiro amanhecer.
“Precisamos de uma nova forma de vida, uma nova narrativa, donde possa surgir uma nova época, um outro tempo vital, uma forma de vida que nos resgate da estagnação espasmódica.”
Sociedade do Cansaço – Byung-Chu Han
Saí do cinema totalmente lenta, contando passos com o meu corpo febril. Parei numa lanchonete, pedi suco de açaí e pastel assado, meus pensamentos estavam anestesiados e eu demorava para entender as perguntas da menina do balcão - depois de sair da escuridão de uma sala de cinema, naquela tarde iluminada, cheia de poças d’água, depois de um temporal.
Voltando para casa, novamente o céu escureceu e a chuva caiu.
Mas consegui chegar, sem grande transtorno, depois de atravessar a cidade como se eu estivesse desconectada não sei do quê.
Tomei um banho, um analgésico e fui dormir.
Que noite longa!! Dormia e acordava e parecia que o relógio estava estragado, porque eu dormia muito, mas a hora não passava naquela noite que começou com um dia atípico – um ataque de vírus.
Esse ataque me fez pensar, depois do filme, o quanto o cotidiano pode ser leve e bonito – aquele em que você acorda normal e o dia está te esperando.
DIAS PERFEITOS abriu um novo leque em mim ao perceber que dentro de dias rotineiros a vida acontece de forma menos agressiva, menos culposa...
Ela acontece de forma mais leve, sem que você se compare aos outros, sem que você se sinta fracassado.
Há beleza em ser comum, há beleza em acordar todo dia, tirar fotos, limpar banheiros públicos, ganhar seu próprio dinheiro sem se violentar para ter muito...
Há beleza em estar sozinho.
Também me ensinou que não devemos esquecer de agradecer a vida que desperta, todos os dias, sem estado febril.
A vida que nos acolhe, independentemente, de aceitarmos desafios, cumprir metas, disputarmos primeiros lugares, sermos os melhores...
DIAS PERFEITOS me mostrou que é possível viver bem fora dos holofotes, fora de uma vida glamorosa, fora dos critérios criados por uma sociedade que inventou o que é ser feliz.
Sejamos menos obedientes para que o nosso discurso final não seja uma lamentação:
“Queria ter amado mais...
Ter aceitado as pessoas como elas são.
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr.”
Titãs
Somos seres que nascemos para desfrutar da vida num planeta pronto para nos receber e são as nossas decisões em relação ao nosso processo vital, não as regras sociais, que determinam nossa felicidade.
DIAS PERFEITOS são aqueles que amanhecem e te encontram no amanhecer.
NAMASTÊ!
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Gosto muito da ideia de que há beleza em ser comum. Beijocas, Carla Kirilos
A sua interpretação acerca do filme foi monumental, de contextualização irretocável. Enxergar sentido e produtividade na calmaria é magnífico. Sensacional!
Dias Rotineiros são PERFEITOS, depende do seu OLHAR.
Que lindo! Vou assistir!
Bela resenha, Beth, vou sempre ao Belas Artes e aí CCBB - vou com certeza assistir ao filme. Abraços e feliz despertar para você