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ESTAR SOZINHO

Foto do escritor: BETH BRETASBETH BRETAS

Essa sensação que não surgiu em tempo pandêmico, que não nasceu no séc. XX.


Ela impera desde que o homem criou metodologias comerciais que foram se agravando com o aparecimento de moedas, dando ao sistema uma dimensão industrial.


E, nessa hora, para o homem, o abismal se instalou – a dinâmica passou a ser de mais valia e projetos discriminatórios passaram a legislar sobre o sistema.


Os espaços passaram a ser, como disse Milton Santos:


“O território como matriz da vida social, econômica e política.”


Aqui talvez, se encontre o ponto para entendermos experiências que geram estilos de vida escolhidos ou não escolhidos, em centros urbanos.


Em espaços geográficos divididos e definidos politicamente como regiões: Sudoeste / Leste / Nordeste / Sul...

Lugares que carregam características que retratam o grau de importância que a eles são destinados.


Divisões fora e dentro das metrópoles, onde milhões de pessoas circulam, tentando dar passos em direção à visibilidade, porque estar aqui, passou a ser direito legislado.


“Jamais houve na história um período em que o medo fosse tão generalizado e alcançasse todas as áreas da nossa vida: medo do desemprego, medo da fome, medo da violência, medo do outro.”

Milton Santos


Triste verdade!


Estávamos no centro urbano: Praça Sete, Av. Afonso Pena, Belo Horizonte e paramos para ver um jovem guitarrista se apresentar.


Meu filho sempre se sentiu atraído por apresentação de artista de rua.


E, neste dia, entre tantas coisas que aconteceram, em questão de segundos, uma irei contar.


Um moço andarilho parou em frente ao meu filho, tocou no ombro dele e gesticulou querendo uns trocados.


Levamos um susto grande, pois a aparição foi tão repentina que foi impossível disfarçar nossa surpresa.


Sempre gesticulando, nos pediu calma, pois só queria uns trocados.


Falamos que não tínhamos. Ele agradeceu, estendeu a mão para o meu filho, gesticulando veemente para que ele a segurasse.


Por momentos, ficamos sem saber o que fazer e trocamos um olhar.


Frente a tanta insistência, meu filho estendeu-lhe a mão.


Ele a segurou com força e demoradamente e, nessa hora, olhei para a sua expressão facial e vi o ódio...

Assustei!


De repente, ele deu um safanão no braço do meu filho, virou a esquina puxando o braço e só soltou quando não conseguiu esticar mais.


Depois seguiu como se nada tivesse acontecido. Seguiu sem olhar para trás. Seguiu em silêncio – como ficou durante todo o tempo.


Um momento zumbi tomou conta do nosso momento.


Recuperei o fôlego.


- Filho, está doendo? Quebrou?


Ele balançou negativamente a cabeça e permaneceu, mais um pouco, no seu momento zumbi.


Naqueles instantes experimentamos o sabor da DIFÍCIL ARTE DE ESTENDER AS MÃOS, em mundo capitalista, onde pessoas se tornam mendigas circulando entre pessoas consideradas bem sucedidas...


Naquele cruzar de caminhos, onde a única coisa que fazemos é julgar.


A presença daquele moço julgado, me fez compreender o quanto se é só num cenário de encontros: Sudeste / Nordeste / Sul / Norte...


Aquele rapaz era tão só, e sabia disso, que nem se preocupava mais se alguém poderia ver ou não, o que ele fazia.

Que loucura é ser só no meio da multidão!


Que loucura foi perceber o tamanho da solidão daquele rapaz.


Passado o susto, meu filho se aproximou do guitarrista, que lhe ofereceu uma música. Meu filho agradeceu, eles se apresentaram, conversaram e se despediram.


E todos voltaram ao seu próprio caminho, numa atitude considerada absolutamente normal.


O mendigo era mendigo. O guitarrista era guitarrista. Meu filho era filho. Eu era a mãe.


E nesse episódio e nesse momento, entre tantas coisas percebidas, algo se destacou: há centenas de coadjuvantes circulando, dentro da cena.


“Perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova da "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.

E ninguém é eu. Ninguém é você. Esta é a solidão.” - Clarice Lispector


NAMASTÊ!





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7 Comments

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Ana Carolina Bretas
Ana Carolina Bretas
Oct 17, 2021

Importante reflexão! ♥️

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Jane Aguiar Fernandes
Jane Aguiar Fernandes
Oct 14, 2021

Lindo texto!!! Você diz de uma maneira bem reflexiva que SOLIDÃO sangra.

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Filipe Bretas
Filipe Bretas
Oct 14, 2021

Com certeza um salto da escritora!

Nos ensinando sobre o social por meio de experiências palpáveis do dia a dia! Sensacional!

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Anjo e Cia
Anjo e Cia
Oct 14, 2021

Temos qye ter um olhar diferenciado para os moradores de rua.

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Estética e EFT com Helenita Bretas
Estética e EFT com Helenita Bretas
Oct 13, 2021

Infelizmente não estamos preparados p viver na solidão!! É uma triste realidade!

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