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EU ME LEMBRO DE VOCÊ - ANTES DAS RUÍNAS - Parte 4

Foto do escritor: DIDI ANDRADEDIDI ANDRADE

O paraíso de canarinho ruiu em uma noite como outra qualquer.


A lua não estava brilhante, as estrelas não cintilavam demais, as nuvens não cobriam o céu. Era só mais uma dessas noites em que óculos fundos voltava esgotado do trabalho.


Eu me preocupei bastante com ele depois da surra que ele levou, por isso, me tornei um pequeno guarda-costas e ia buscá-lo no trabalho. Um papel que, sejamos sinceros, quem deveria estar fazendo era Canarinho, mas esse humano incompetente nn estava fazendo muito mais coisas ultimamente.


Óculos Fundos parecia ter se reduzido de uma chama brilhante a uma faísca exausta. Essa vida difícil não estava sendo fácil para ele, um humano que cresceu com privilégios, e infelizmente, parecia ainda mais sem sentido, visto que a pessoa pelo qual ele estava fazendo isso tinha voltado a se trancar em sua obsessão.


Pobre Óculos Fundo, eu já estava me perguntando se o que ele fizera havia valido a pena pra ele, e, pelo jeito, ele também.


Veja bem, eu amo Canarinho, com todas as minhas forças. O estimo tanto quanto estimei minha Pequena Senhora, e o prezo tanto quanto prezava meu Velho Rabugento e egoísta.


Independente dos acontecimentos recentes, eu ainda amo esse humano, vejo sua existência como preciosa, me aninho em sua alma machucada.


Mas eu não acho que os outros são obrigados a aceitar esse lado feio dele…. Principalmente Óculos Fundos. Alguém que desistiu de tanto por Canarinho, apenas para não ser tão estimado quanto deveria.


Talvez estimado não seja a palavra certa, talvez seja tão obsessivo quanto o que quer o Canarinho estivesse planejando. A questão é que, quando Óculos Fundos voltava pra casa depois de um dia horrível, ou da surra que acabou levando, ou de algo surpreendente que viu, o que ele encontrava era Canarinho debruçado em sua mesa, todos os dias.


Acho que nem eu teria gostado dele se o conhecesse agora.


Canarinho é gentil, é sensível, é resistente, e resiliente, é cabeça dura, é carinhoso, é considerador, é inteligente, é sonhador, é um coração retalhado, é tudo o que ele não estava sendo agora, escondido atrás do que quer que estivesse fazendo.


Claro que não julgo óculos fundos por não ser obrigado a aceitar isso… Por isso, não me surpreendi na noite em que ele voltou para casa, encarou sua cabana fria e escura, viu a porta fechada de Canarinho, fechou os punhos e olhou para mim:


– Eu vou embora, Sabiá.


Eu senti a dor de uma saudade antecipada explodir em peito, senti a agonia que seria ver o sofrimento que Canarinho entraria ao saber dessa notícia. Senti o desespero por nunca mais ver Óculos Fundos de novo. Senti alívio porque, ao mesmo tempo, acreditava que ele merecia vida melhor, que deveria ser feliz.


Segui Óculos Fundos, cabisbaixo, até a porta de Canarinho. Ouvi as batidas na porta dele como murros surdos em minhas costelas, antecipei o caos que viria depois…. Até que não veio.


Canarinho não estava em casa.


E onde ele estaria então? A essa hora da noite?





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