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EU ME LEMBRO DE VOCÊ │CAPÍTULO VII - PARTE 11

Foto do escritor: DIDI ANDRADEDIDI ANDRADE
UM TESOURO EM UMA ÁRVORE - PARTE 11

– AHAHAHAHAHA! Mestre, você ganhou um seguidor agora?


A forma em que Canarinho levava seus dias era, no mínimo, igual.


Ele acordava, saia, ia para um lugar em que os humanos tomam o tal do álcool e o bebia até quase cair. Então, ele voltava para nossa toca cambaleante, dormindo jogado em nosso ninho como um rato morto.


É verdade que só estou com ele por alguns dias, agora. Então, talvez, não tenha o direito de comentar mas… não parece muito…. certo.


Canarinho, sentado à mesa com os demais bêbados, se vira na minha direção e me lança um olhar emburrado:


– Que seguidor! É só uma… a-assombração!


E é essa assombração aqui que deveria se sentir ofendida! Não você!


Canarinho é, de longe, o pior humano que já escolhi!


Desde que assumi nossa toca, meus esforços para limpá-la e mantê-la em um odor aceitável tem sido anulados, tudo por culpa desse humano!


Ele sempre volta pra dentro as roupas que jogo fora!


Toda a comida que ele trás sempre apodrece!


Ele sempre está fedendo!


Mesmo o Velho Rabugento me dava alguma refeição.


Mas Canarinho nunca me deu nenhuma!


Isso é um absurdo!


É verdade que venho caçando minhas refeições, mas ,ainda sim, é horrendo!


Ele vem me tratando exatamente como disse, como se eu não passasse de uma assombração!


Ao menos, seguir um bêbado por aí não era nada difícil. Era o lado bom disso tudo.


Enquanto ele bebia, eu podia observá-lo tirando sonecas ao sol em telhados, ou muretas. Não era tão ruim.


O bêbado que conversava com Canarinho envolve os braços ao redor dele:


– Ei Mestre, - diz o homem robusto, que parecia mais sóbrio* que Canarinho, mesmo com a língua embolando - por que você na…


– Não me chame de Mestre…! - Canarinho luta debilmente pra se soltar do aperto:


– Que isso Mestre!. - O homem o aperta mais - Mesmo que a Grande Torre tenha te expulsado por ser inútil, você ainda é mais inteligente que todos nós juntos!


Os demais homens na mesa riem.

Canarinho luta.


– Não! Não sou um mestre!


– Pare com isso Mestre. - O homem robusto, que era mais alto que Canarinho, encostou a bochecha na testa dele enquanto pensava que falava mais perto do ouvido do outro – Se esse seu novo seguidor te incomoda tanto, esse senhor aqui pode te fazer um favor, – Abro meus olhos do cochilo que tomava e olho para os dois – tenho algumas coisinhas em casa, faça alguma comida e misture para ele comer. Você apenas vai precisar me pagar um pouquinho mais do que já deve….


Dessa vez, a força que Canarinho o empurra é suficiente para fazê-lo tropeçar um passo para trás:


– Não!


Quando a feição de Robusto se fechou, os demais homens da mesa se levantaram, agressivos para com Canarinho:


– Muito bem, - Diz Robusto, com um sorriso sujo - mas você precisa me pagar o que já me deve, Mestre.


Canarinho franze a testa:


– Já te paguei.


O homem sorri:


– Claro que já está devendo mais! Minha companhia custa caro, sabia? Não é todo mundo que quer se misturar com um fracassado louco como você. - Canarinho recua - Além disso, esses empurrões de agora, você precisa me compensar.


- Nem machucou!!


Robusto agarra a costela fingidamente:


– Como você sabe? Foi tão forte! Deslocou minha costela, você tem que me pagar!


Irado, Canarinho tenta se virar para ir embora:


– Não tenho dinheiro. - Ele diz friamente, tropeçando em um banquinho.


Com um olhar de Robusto, dois homens o agarram pelo braço. Independente das lutas de Canarinho, eles o arrastam para a rua e…


O jogam em outra maldita vala.


Já era a segunda essa semana…


Robusto o olha de cima:


– Não tem dinheiro? Rá! Mas tudo bem, eu sou generoso. - Ele se abaixa, olhando-o com frieza - Te dou uma semana pra me pagar. - Finalmente, ele se vira e vai embora com seu grupinho.


Levanto-me de onde estava, indo até um Canarinho imundo… novamente.


Com um suspiro, o chamo:


Ei.


Ele nada fazia, olhando atordoado para o céu azul.


Ei.


Superando meu nojo, o cutuco com uma careta:


EI!


Ele finalmente reage, me olhando com olhos vazios.


Dou um tapa nele de novo:


Você precisa se limpar! Não vou deixar você deitar no nosso ninho todo sujo de novo!


É quando Canarinho finalmente pisca, cobrindo os olhos com os braços. Traços de lágrimas começando a cair.


– Não sou mais um mestre… Sabia? - Ele diz, enquanto começa a soluçar - Eu não sou mais um mestre…


Eu sei, Canarinho. Eu sei



Mas, você ainda precisa se limpar.




_______________________________________________________________


Sóbrio: Como os humanos chamam aqueles que não estão bêbados.



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2 Comments

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Carmen Regina Santos
Carmen Regina Santos
Feb 19, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Seus testos são muito ricos nos detalhes.

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Guest
Jul 24, 2023

Coitado do nosso felino!Os humanos não estão fáceis na vida dele.

Namastê!

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