EU ME LEMBRO DE VOCÊ │ CAPÍTULO VII - PARTE 6
Um Tesouro em uma Árvore - Parte 6
Aquela fase da minha existência foi, de longe, a primeira vez que passei tanto tempo em um único lugar, contrariando tudo que vivi anteriormente.
E, como se isso, - o constante - zombasse de minha época nômade, foi confortável, divertido.
Foi fixo.
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Aquela nova vida tinha a mesma constância que aquela Cidade*, - mesmo que em constante mudança - possuía.
Assim como também a mesma incongruência que a imortal e inquebrável Torre Torta emanava.
Foi… Saudável, e mesmo que rotineira, cheia de pequenas surpresas.
Pela verdadeira primeira vez, eu descobri como era confortável viver em uma única colônia humana.
Desde que deixei minha Pequena Senhora, com exceção do meu tempo com o Velho Rabugento e Girassol, massei minha vida constantemente vagando.
Andando.
Perambulando.
Caminhando.
Circulando.
Por montanhas ou vilarejos*.
Cidades ou florestas.
Nunca fiquei muito tempo.
Talvez eu quisesse explorar o mundo.
Ou talvez eu estivesse procurando alguma coisa que nunca encontrei, no final.
E, no meio disso, eu provavelmente passei a pensar que de certa forma, ficar muito tempo em um único lugar seria entediante.
Como fui tolo.
Aquela cidade me proporcionou uma vida maravilhosa. Ao ponto que nunca passou pela minha mente a cogitação de ir embora.
Nem mencione as novidades da Torre Torta, mesmo que ao longo das estações eu tenha de fato criado uma rotina diária, nunca foi frustrante, ou repetitivo.
Diariamente, eu acordava e ia a um dos pontos que sabia que teria comida para a primeira refeição do dia. Então, patrulharia os telhados e muros de meu território e tiraria uma soneca aproveitando o Sol da manhã. Observaria os humanos, caçaria passarinhos. Viveria no prazer de ter confortáveis tocas fixas e locais que sabia, me dariam alimento quando eu desejasse.
Foi uma das maiores coisas que aquele lugar me proporcionou.
Conforto.
O conforto de tocas fixas, da fácil comida na mesa, da segurança, da certeza da sobrevivência, não estavam no menu* de uma vida nômade. E é difícil desistir disso depois que você passa a ter.
– Claro, viver nas casas* de humanos, como Minha Pequena Senhora e o Velho Rabugento, também proporcionava isso.
Mas, vinha com um peso adicional.
O que nos leva ao segundo maior presente que a Cidade me trouxe: Pensar.
Porque, quando sua mente tem o conforto de não precisar se preocupar tanto com predadores, possíveis ameaças, sua próxima refeição ou o lugar onde você irá dormir, ela passa a se focar em outras áreas.
E eu pensei. Muito.
Das conversas de humanas sobre vidas alheias, - que passei a apreciar ouvir, de cima dos telhados das casas - à vida que tinha levado com os humanos que convivi.
Pensei sobre liberdade.
E aquele era o verdadeiro peso entre a vida naquela cidade e a vida que tive com meus humanos.
Dói, viver com pessoas*.
Embora ganhe uma toca, e afagos quentes, e comida na mesa*, e a perda, você perde a liberdade.
Foi quando eu percebi o quanto eu gostava de levar uma vida sem humanos.
Porque naquela cidade, eu tinha tudo isso, sem perder minha liberdade.
As tocas eu podia facilmente procurar dentro de meu território, as estabelecendo em lugares que considerava permanentemente seguros. Bastava apenas fazer a manutenção ou me mudar quando achasse outra mais adequada.
A comida vinha de muitos lugares, desde lojas* como a de Meu Velho Rabugento à pessoas que queriam me dar, o que vinha junto com os afagos, que também eram muito fáceis de conseguir. Bastava apenas parar na frente de qualquer humano disposto.
Para aqueles tolos extravagantes, era uma troca justa.
Eu deixava que me tocassem e então eles me davam a preciosíssima comida.
Eu não precisava viver nas tocas deles. Não precisava ter nomes. Não precisava me ligar muito profundamente.
Mas tudo mudou.
Mudou no ano* em que Canarinho não apareceu na mostra da Grande Torre Torta.
O que nos leva à terceira grande coisa que aquela Cidade me proporcionou.
Ela me deu um fardo. E Canarinho.
continua...
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Cidade: Uma grande colônia de humanos.
Vilarejos: Uma pequena colônia de humanos.
Menu: Há um lugar em que humanos fazem comidas para outros humanos, a segunda parte recompensando a primeira. Menu é o nome da lista onde a comida que será servida está escrita.
Casas: Como os humanos chamam suas tocas.
Pessoas: Outro nome para humanos.
Mesa: Uma superfície lisa, podendo ser de árvores mortas ou pedra, onde humanos gostam de fazer as suas refeições.
Lojas: Um lugar em que humanos expõem coisas para outros humanos. Se a segunda parte gostar, vai trocar o que quer por pedaços de pedras derretidas. O humano que conseguiu essas pedras também as usará para trocar pelo que quer em outros lugares. Essas coisas trocadas pelas pedras podem ir de comida à peles e tocas.
Ano: Como os humanos chamam o conjunto de quatro estações. Quando uma estação se repete, um ano se passou.
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Uau!!!Nascendo um gato muito observador e com olhar filosófico.
Namastê!