EU ME LEMBRO DE VOCÊ - CAPÍTULO VII │PARTE 7

Um Tesouro em uma Árvore Parte 7

Relutantemente admito que a não ida de Canarinho à feira me… me fez sentir muito.

Me fez sentir falta.

Convencimento.

Superioridade.

Raiva.

Decepção.

Com Canarinho sendo, por anos, a minha maior fonte de entretenimento naquela Torre, de repente, quando ele já não estava lá, a Feira parecia ter perdido a graça.

Fosse qualquer identificação não assumida ou, talvez, um sentimento vil, a luta dele contra sua própria espécie, sua sociedade*, era para mim um grande espetáculo.

Eu me perguntava se ele ainda não se dobraria mesmo sob as humilhações dos iguais que ele tanto queria reconhecimento.

Apostava comigo mesmo quando ele quebraria, quando cansaria, quando definharia.

Afinal, ele não ia conseguir resistir.

Não quando um humano é uma espécie tão social.

Digo, ele não sentiria falta? Das conversas, do respeito, do ser visto que seguir as massas o traria?

Talvez isso, além do ridículo de ver tantas ideias humanas absurdas, fosse o que realmente me fazia ir às Feiras.

Eu queria saber quando Canarinho iria desistir.

E então, quando ele finalmente não apareceu, quando eu finalmente me provei certo de que ele não conseguiria, eu me senti… Entorpecido.

Ao mesmo tempo que deveria estar feliz porque estava correto, a emoção que verdadeiramente emanava de mim era… raiva.

Ele realmente desistir me deixou em ira.

Uma ira desapontada por ele ter quebrado.

Ele não passava de um humano em sua colônia.

Só uma pessoa.

Decidiu virar mais uma formiga entre as massas.

Como ele ousa?

Fui embora depois de vagar a Feira inteira, escalar as paredes da Torre Torta, e procurar em cada canto que pude pensar por ali.

Não o encontrei. Nem mesmo um traço de cheiro.

Ao mesmo tempo que minha mente estava entorpecida pela raiva.

Como ele ousa?

Como ele ousa?

Como ele ousa?

Eu queria correr e arranhar a cara daquele jovem humano.

Urrar e Pisotear o maldito passarinho que quebrou as asas.

Mas…. Porquê eu verdadeiramente estava com raiva? Não era isso o que eu queria? Não era pra isso que eu estava torcendo? Por que o estou procurando? Já não provei que estava certo?

Mas continuei a procurá-lo. Por uma semana.

Talvez, eu quisesse continuar o entretenimento? Ver se ter desistido de si mesmo valeu realmente a pena? Passar o meu tempo a vê-lo, talvez, ainda lutando?

O raio* de busca se tornou cada vez mais longe da Torre.

Juntei todo o raciocínio que tinha e tentei ouvir as conversas humanas pelas ruas* cada vez mais precárias e empobrecidas*. Já que essas prosas traziam tantas informações sobre a vida de outros humanos, me perguntei se poderiam ajudar a achar certo Passarinho.

Infelizmente não ajudou.

Tudo o que fiquei sabendo foi sobre casamentos*, casos ocultos de felações, um bêbado* que rondava a área, filhotes ou familiares que fizeram alguma coisa. Tais conversas não eram úteis quando estava procurando alguém em específico.

E então… Eu finalmente o encontrei. Caído. Imundo.

E ver Canarinho naquele estado foi um espetáculo pior do que pensei.

Continua...

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Sociedade - Regras implícitas, em que criaturas sociais vivem.

Raio - Na linguagem humana, pode ter muitos significados, desde os galhos brancos de luz, que causam estrondos atrasados nas tempestades ao nome que dão ao tamanho da metade da metade da forma que rola. Nesse caso, significa distância.

Ruas - Os caminhos que existem nas colônias humanas. Geralmente, espaços abertos e retos entre tocas e lojas. Também é onde os humanos circulam para vagar na colônia.

Empobrecidas - Na sociedade humana há humanos que têm muitas pedras derretidas (e que por isso, podem trocar por muitas coisas) e humanos com muito poucas pedras derretidas (e que por isso, não podem trocar nem mesmo pela comida mais básica). Pobre é o termo dado aos humanos que tem poucas pedras.

Casamento - Nome dado à cerimônia onde dois humanos prometem um ao outro monogamia. Depois disso, eles geralmente se reproduzem. Em muitos casos, entretanto, a promessa de monogamia não é cumprida.

Bêbado - Há uma bebida que os humanos gostam de consumir que os deixam alterados. Bêbado é o nome dado a um humano alterado por bebê-la demais.

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