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EU ME LEMBRO DE VOCÊ - CAPÍTULO VII │PARTE 8

Foto do escritor: DIDI ANDRADEDIDI ANDRADE
Ver aquele miserável canário, deplorável e quebrado, caído naquele chão nojento realmente me foi o pior dos resultados.

A visão de seu corpo imundo sobre aquela vala* foi tardiamente impactante.


Era apenas mais uma ponte que sobrepunha algum esgoto*. Eu só queria passar pra continuar minha busca.



Eu não o reconheci de início.


Não passava de um bêbado.


O Canarinho que eu via algumas vezes ao ano se vestia em peles que os humanos consideravam apresentáveis. Tinha o cabelo* escuro bem aparado, o corpo bem lavado, os olhos brilhantes como o céu que almejava.


Mas o homem jogado naquele esgoto* não.


Os cabelos bem cuidados se tornaram ensebados e emaranhados como lodo.

Ele fedia como os excrementos em que estava jogado. Suas roupas* não passavam de trapos. Sua imundície era tamanha que impedia até mesmo que a cor de sua pele se distinguisse.


Devia estar doendo.

Parecia estar doendo.


Não havia mais vida naqueles olhos, fechados pelo peso.


Não tinha mais vitalidade no peito que subia e descia, dentre aquela podridão de excrementos.


Então, imagina-se meu choque quando percebi que aquele miserável era meu Canarinho.


Eu congelei no meio de meus passos. Recusando-me a acreditar que um humano como aquele, agora estava assim, naquela imundície.


Infelizmente, mesmo a podridão do fedor do álcool e das fezes humanas ainda não podiam esconder o traço do cheiro único que ele tinha. Não ocultavam de mim a terrível verdade:


Aquele era Canarinho.

Vê-lo em tal situação me lembrou das conversas humanas que ouvi no período que o busquei e julguei inúteis. Sobre aquele novo bêbado maluco, julgado com o maior dos desprezos pela própria espécie.


Fez meu coração gelar.


Eu corri.


Me vi em cima de seu corpo caído antes que me desse por mim.


Não.


Não.


Nem de longe eu estava feliz.

Não parecia ser aquilo que eu queria.


Vê-lo finalmente quebrado pela realidade tenha sido, de fato, a primeira vez que me senti tão…. Igualmente miserável.


Canarinho estava morto.


Por dentro.



—-----------------



Vala - Humanos têm péssimos hábitos de higiene e terríveis sentidos de auto-proteção. Ao invés de ter o bom senso de esconder os próprios excrementos, eles os deixam acumulados ao ar livre.


Esgoto - Outro nome para vala, entretanto, pode ser o nome dado à água contaminada por excrementos humanos. Ironicamente, essa espécie também tem o nojento hábito de descartar a própria urina ou fezes nos rios de que bebem.


Cabelo - Bem, humanos são uma espécie bastante pelada em relação à grande maioria do resto dos mamíferos. Praticamente não tem pelos dignos de verdadeira nota, são tão ralos que a pele é visível por baixo. Cabelo é o nome que dão para o tufo de pelos que tem no topo da cabeça e que podem crescer infinitamente. Com exceção das partes reprodutoras, é o único lugar dessa espécie que realmente há pelo de verdade. Eles consideram seus cabelos como um padrão de beleza.


Roupas - Justamente por não terem pelos, os humanos doentiamente se cobrem com as peles e pelos de outros animais ou plantas. Provavelmente passaram a usar pra não morrer de frio, mas se acostumaram tanto a isso que acham um absurdo quando alguém de sua espécie decide não usar.


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3 Comments

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Guest
May 19, 2023

Você é absurdamente inteligente e criativa! Irá longe! Sucesso!

Viviane❤️

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Guest
Apr 25, 2023

Que morte ausente a do Canarinho - que morreu por dentro.

Namastê!

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Estética e EFT com Helenita Bretas
Estética e EFT com Helenita Bretas
Apr 19, 2023

👏👏👏👏👏👏👏

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