EU ME LEMBRO DE VOCÊ - CAPÍTULO VII │PARTE 9
Meus miados e patadas acordaram o degradado humano sob minhas patas.
Como qualquer outro sob o efeito do acordar, ou qualquer outra droga, ele estava mole, grogue. Encarava o nada como se esse pudesse lhe dar alguma coisa.
Não parecia muito diferente de mais uma presa morta.
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Felizmente, as patadas que ainda lhe dava pareciam ser dolorosas o suficiente para que ele reagisse.
Seus turvos olhos mortos encontraram os meus.
Canário reagiu com bastante violência. Saltei para trás quando ele ergueu o tronco daquela sarjeta em um supetão, balançando o braço violentamente para se livrar de mim
– Você…! - Sua voz esganiçada soava como se ele estivesse lutando com a própria língua para se comunicar.
Canarinho, então, lutou para se pôr de pé em suas duas patas humanas. Um ato, aparentemente, tão difícil para ele que este quase caiu de novo contra os excrementos, várias vezes.
– VOCÊ! - Ele luta para dizer novamente, apontando o dedo para mim - gato desgraçado… - Uma pausa, e eu o vejo tentando agachar e pegar uma pedra, mal mantendo o equilíbrio no processo. - Vai embora… - ele joga a pedra contra mim - VAI EMBORA!
Ele não teve a menor pontaria naquele estado, mas ainda me esquivei. A pedra fez um ruído abafado, quando espalhou mais dejetos com seus respingos.
Ele ainda murmurou mais insultos
enquanto procurava mais pedras, e eu me vi, surpreendentemente, imune a eles.
Não que eu já tenha ligado para o que a maioria dos humanos já pensaram sobre mim, mas, depois de tanto tempo que passei com o Velho Rabugento, (assim como todos os insultos que vieram com isso), as palavras de Canarinho não me pareceram ofensivas.
Estavam mais cheias com a própria dor do que com o objetivo de me machucar.
Nem mesmo ele percebeu.
Foi assim que eu descobri que humanos não necessariamente precisam de lágrimas para chorar, mesmo sem elas, enquanto procurava pedras e pensava que jogava todas as rochas do mundo em mim, Canarinho estava em prantos.
Quando viu que as pedras acabaram, ofegante, Canarinho começou a rir.
Também foi assim que percebi que humanos podiam estar em prantos, sorrindo.
– Mais um pra rir da minha ruína. - ele ainda ria - Finalmente veio ver minha ruína!
Passei a segui-lo, quando ele cambaleou para fora daquela vala imunda.
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Então Canarinho saiu da vala e saiu enfurecido.
Namastê!