EU ME LEMBRO DE VOCÊ - CAPÍTULO X
Um tesouro em uma árvore.
– Então, me dê uma ideia, Sabiá. - Elevado e ereto como um chefão*, Canarinho apontou o dedo para mim - Você, como um gato super estranho… - Ele coça a cabeça - tem alguma ideia sobre como fazer objetos* voarem?
…
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Não, Canarinho.
Acho que você tem uma ideia muito elevada de mim.
Começo a lamber meu pelo.
– …Certo. - Canarinho suspira, se agachando ao meu lado - nenhuma ideia, então.
Como um velho amigo, o vento forte se chocou contra nós, balançando nossos pelos. Em todos esses anos, ele nunca pareceu mudar muito, é o mesmo desde que eu era um filhote e permanece igual, tanto tempo depois.
Lá, ele ainda bagunça nossos corpos e nos oferece frio como os ventos de qualquer outro lugar. Imutável.
Imutável como a metamorfose constante da mente de meu humano.
Imutável como nosso pequeno lugar parecia ser.
Estávamos na mesma campina de antes, ou onde gostava de pensar como nosso pequeno refúgio do resto do mundo.
Era onde a grama seca e as árvores ofereciam a cobertura adequada para qualquer loucura que Canarinho fizesse.
Onde o Céu, azul ou cinzento, nos oferecia um gostinho de liberdade e, os ventos, sussurros de nossos desejos ainda não alcançados.
Onde os raios do Sol, embora, agora escondido dentro das nuvens, aquecia a pelagem de nossas almas e onde o canto dos pássaros que caçava, se findavam sob os meus caninos.
Era perfeito.
Embora, nesse momento, Canarinho parecesse tentado a estragar isso com seus lamentos e seu graveto, que constantemente rabiscava na terra.
– Droga - Ele xingava e murmurava, enquanto rabiscava o chão. - Eu posso voar agora, se construir as coisas que tinha pensado. - Canarinho desenha uma bola, e riscos em baixo - dá pra encher um lugar que contenha ar, por exemplo, com calor. Com o peso certo, você flutua. Dá pra fazer isso até com um grupo de pessoas, se elas ficarem embaixo, mas…. - ele risca duas linhas cruzadas em cima da bola - estamos falando de uma torre. É pesado demais, a bolsa teria que ser grande demais e aquecida demais… Impossível.
Então, ele desenha um quadrado, e duas bolas ao lado:
– Deveria ser uma construção mais leve - Ele resmunga - meio oca por dentro, então isso deveria funcionar. E aí… - ele semicerra os olhos - Dá pra fazer como os beija flores, estruturas parecidas poderiam ajudar na estabilidade-...
Ele balança a cabeça.
– Não. - Mais dois riscos cruzados em cima. - Eu quero fazer algo que já existe voar, não construir do zero… como manter o calor constante para manter um edifício que deve ser leve no ar também seria um problema ... Inviável.
Então ele rabisca algo pontudo:
– Dá pra voar, se construir algo que resista ao vento e se jogar de um lugar alto…mas…
Mais dois riscos cruzados:
– Mas estamos falando de uma torre… Não. O que nós precisamos é de algo forte o suficiente para erguer a torre e assustá-los, uma força que empurra contra a gravidade, algo...
– …Miau?
Canarinho congela, se deparando com meu olhar…. Chocado.
Então… Canarinho já chegou tão longe?
Como eu não percebi?
Quando ele descobriu tanto?
Quando ele já até mesmo cumpriu seu primeiro sonho, de saber como alcançar os céus?
Ele ao menos notou?
…Ele ao menos se importou?
Não que Canarinho soubesse ler a mente dos outros, ou a minha. Talvez ele não tenha percebido meu choque, talvez tenha interpretado outra coisa, talvez suas preocupações fossem outras:
Já que ele só riu:
– Eu não fiquei rabiscando naqueles papéis atoa, Sabiá. - ele fez carinho na minha cabeça - … mas não é suficiente.
E, pela segunda vez, eu me vi perguntando o que era suficiente.
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CHEFÃO: Líder, alfa do bando.
OBJETOS: Coisas construídas por humanos.
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Canarinho está se revelando e surpreendendo!
Namastê!