EU ME LEMBRO DE VOCÊ │CAPÍTULO VII - PARTE 4
Um Tesouro em uma Árvore - Parte 4
Antes que eu notasse, enquanto permaneci naquela cidade, entre os turnos constantes da Lua e do Sol, estações inteiras se passaram e se repetiram.
Os verões se alaranjaram e se transformaram em outonos, e os outonos em primaveras. As mudas de árvores, plantadas nas grandes avenidas, cresceram até se tornarem robustas, e a cidade, lentamente, se modificou em conjunto.
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Ninhos de madeira ou pedras, edifícios ou casas, foram erguidas e desabadas. Filhotes humanos que via com frequência, se tornaram interessadas em se reproduzir. Estradas, (corredores vazios entre os ninhos) cresceram e foram encravadas com pedras. Flores foram plantadas e substituídas. Animais se reproduziram e morreram. E os humanos, independente das novas hordas que nasciam, continuaram com suas vidas iguais:
Sempre enchendo as ruas com suas multidões - fervorosas e clamorosas, às vezes, clamando por crenças que só eles sabiam.
Sempre comprando suas coisas em vendas que abriam, prosperavam ou fechavam.
Sempre consumindo o ambiente e outros seres vivos ao redor para alimentar a si mesmos e a cidade.
Sempre cortejando novos parceiros.
Sempre sem ter a capacidade de educar seus próprios filhotes desagradáveis.
E, nesse ciclo infinito de morte e vida, tanto da cidade quanto de suas pessoas, apenas uma única coisa não mudou:
A Grande Torre Torta permaneceu exatamente a mesma.
Mesmo que eu tenha mencionado que as multidões humanas permaneceram iguais após uma geração, pelo menos, alguns pequenos gestos ou roupas (peles roubadas usadas pelos humanos) daquela Colônia se modificaram.
Só a Torre ficou igual.
E nunca caiu, aliás.
Depois de todas aquelas estações, - que passei nos telhados, observando, com tédio, o mundo ao redor – nem mesmo um único tijolo (pedra esculpida em uma forma quadrada) saiu do lugar. Mesmo após tantos verões, a Torre ainda continuava a ser recheada de pessoas que clamavam pelo tal do “conhecimento”, cheia de gente, fosse primavera ou inverno.
Bem, naturalmente, não é que tenha sido tão monótono, na realidade.
Uma vez a cada quatro estações, A Torre Torta abria as portas para outros humanos que não usavam as mesmas peles daqueles que a frequentavam, exibindo suas bugigangas, discussões, teorias e papéis, feitos por seus humanos. Naturalmente, os demais humanos forasteiros, também exibiam suas criações como pavões, ou discutiam de volta.
Era um evento que, mesmo eu, gostava de ir. Sempre estava... digamos que “curioso” para ver as construções que tinham inventado de novo.
Sinceramente, era uma diversão incrível ver tudo aquilo, ou ouvi-los dizerem e questionarem coisas idiotas. Em uma dessas vezes, a primeira que fui, vi um tolo jovem humano.
Ele era realmente novo. Mais jovem que a maioria dos homens que havia ali, quase ainda na infância. A pelagem amarela de sua cabeça me lembrava facilmente um filhote de galinha. Ele falava de forma apaixonada, apresentando desenhos de aves, e então de humanos trajando peles que lembravam aves.
Quando o ouvi questionando apaixonadamente sobre como humanos também poderiam voar, ronronei tanto, em tamanha diversão, que meus bigodes doeram.
Humanos voando como passarinhos? – Eu pensava enquanto ria.
Como era uma piada!
Então, eu poderia agarrá-los com minhas garras?
Entretanto, assim como eu, ao invés de se maravilharem com aquela idiotice, - como faziam com todos as outras idiotices ainda mais absurdas – os outros humanos não levaram a sério o que aquele Canarinho (como passei a chamá-lo, já que ele era amarelo e queria ser um passarinho) dizia.
Na verdade, zombaram dele por conta da sua idade, e pelo que ele estava falando.
Isso, francamente, me fez querer arranhar o chão.
De novo, a coisa dos Humanos-Passarinhos podia ser realmente ridícula, mas não era nem de longe a principal das ideias que me divertiram tanto, que passei a ir naquele evento todos os anos.
Havia por exemplo, um homem que discutia sobre ressurreição de corpos.
Retornar à vida algo que já morreu? Cujo o corpo já até começou a cheirar mal? – Aquilo me fez contorcer em risadas ronronadas.
Também, tinha um velho que defendia que comer pouco poderia te fazer viver mais tempo.
Uma jovem que tinha a teoria de homens-peixes.
Outro de meia idade que falava sobre imortalidade...
Mais outro que dizia sobre as estrelas...
E mais um que falava sobre congelar e não envelhecer...
Aquilo sim era digno de gargalhadas tão altas que faziam minha barriga doer. As ideias bobas de Canarinho não chegavam nem aos pés delas.
Mas, surpreendentemente, eram essas coisas ridículas que mais chamavam a atenção e a admiração dos demais.
Era como se, quanto mais ridícula fosse a teoria, mais os outros a aclamavam.
Por isso, a repulsa deles para as ideias de Canarinho eram, francamente, irracionais.
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Quando você disse que os humanos, independente das suas novas hordas que nasciam, continuaram com suas vidas iguais. É difícil a evolução humana. 👏👏👏👏❤️😘
Didi,você está cada vez mais cada vez! Estou maravilhada!!!O 1° parágrafo é um show de descrição poética!!
Namastê!