IMPERFEIÇÕES
Das reflexões que caminham pela pessoa que vos escreve.
Por definição, palavra que caracteriza ausência de perfeição. Imperfeição também pode descrever uma condição de não terminado, em construção. Já parou para pensar em quantas vezes você foi julgada por não ser perfeita?
Considerando que vivemos em um mundo que nos cobra perfeição todo o tempo. Que quer, a todo custo que sejamos perfeitas em todos os quesitos. Que, desde o seu andar, falar, sentar-se à mesa, comer, interagir, se vestir, expressar... pensar. (sim, sua forma de pensar também se trata de um desses quesitos), tudo deve ser perfeito. Mas, o que seria essa perfeição? Quem decide esse padrão? Já que, é preciso ter um parâmetro para comparar e se especificar o que é perfeito e o que não é.
Quantos padrões temos que alcançar ao longo da vida! Padrões muito específicos, de qualidade do ser. Mulheres e homens seguem suas vidas tentando alcançar com excelência cada um deles. Somos impelidos a, deliberadamente, deixar de lado o que somos para atender às expectativas de tanta gente. Não basta ser inteligente, tem que ser mais inteligente. Não basta ser bom, tem que ser melhor. Não basta ser educado, há de ser mais educado.
Você, alguma vez, já refletiu sobre todas as partes essenciais de você que foram deixadas para trás, ao decidir alcançar os padrões estabelecidos por outras pessoas? Quantas vezes você disse “não” a seus sonhos, suas aspirações, sua forma de entender o mundo, sua essência, para aderir ao que ao outro esperava de você? Quantas foram as vezes que você abdicou do seu direito de se posicionar diante de algo que não condizia com seus gostos, ou suas vontades?
Por favor, não entenda, quando eu digo “se posicionar”, por brigar, criar o caos, desavenças, ou extinguir por completo a empatia dos seus relacionamentos (embora, algumas situações exijam extremos), mas, levar em consideração que trata-se de você, quem você é, como vivencia esta experiência tão rica que é estar aqui, experimentando esta vida.
O mais impressionante nisso tudo, é que o mesmo mundo que te cobra veementemente a perfeição, é incapaz de te aplaudir quando você alcança uma expectativa, mas está sempre pronto a te “apedrejar” quando você não alcança. Pessoas, que estabelecem níveis altíssimos de “padrões de qualidade” de seres humanos, e querem, a qualquer custo, impô-los a nós, como algo que deva ser assim, e pronto.
Quando se trata do universo feminino, a impressão é de que os níveis de perfeição a serem alcançados são ainda maiores. A gente precisa ser magra, inteligente, resiliente, forte para aguentar as barras, mas frágil o suficiente para nunca se posicionar. A gente precisa ser a melhor mulher, a melhor mãe, a melhor profissional, a melhor amiga, a melhor filha, a melhor irmã, a melhor... Um número absurdamente infinito de padrões a serem alcançados. De alguma forma, o que é considerado como nossas imperfeições está sempre à nossa frente, como se estivéssemos sempre um passo atrás de onde deveríamos estar, ou como deveríamos ser.
E, quando a gente se coloca em algum lugar de destaque, então, as pedras surgem até de onde você nunca pensou que viriam. A cobrança cresce em proporções inimagináveis. É preciso agradar a “gregos e troianos”, o que significa agir com perfeição diante da percepção de muita gente.
Esse eterno equilibrar de tantos pratos girando, nos obriga a buscar caminhos, formular estratégias, desenvolver metodologias para sobreviver. E tentamos. Tentamos muito, alcançar o inalcançável. De padrão em padrão, vamos nos superando, nos machucando, nos deixando de lado. E, na ânsia de nos estruturar, nos desestruturamos. Adoecemos, buscando algo que nos prove que somos suficientes. Mas, nunca somos. Pratos caem, outros permanecem girando. E, enquanto estamos tentando reagir às eventuais quedas ou fracassos, nos vemos mergulhadas no caos. Nos sentimos prezas a correntes que nos limitam, sufocam.
Estou aqui para te lembrar, principalmente, de que a sua essência é linda! De que ninguém sabe o que significa ser você, além de você mesma. De que, ainda há tempo de construir o caminho que você tanto deseja, mas é preciso trabalhar isso em si. Eu sei que não é fácil estar aí, no seu lugar. E eu digo, sinceramente, que sinto muito por todas as vezes que você teve que se anular, se calar, que sofreu julgamentos terríveis, que se puniu por não alcançar níveis tão altos estabelecidos por alguém, ainda que esse alguém seja você mesma.
Isso me traz uma reflexão sobre as ditas “imperfeições”, e eu gostaria que você me dissesse se faz o mesmo sentido para você. A meu ver, elas trazem uma beleza intrépida, e se movem inadvertidamente, em nós, até o momento em que se ressalte que se tratam de tal. Ou, até nos convencerem de que, ser assim ou “assado”, não condiz com o padrão.
Quero que saiba que, ainda que pareça impossível, neste momento, mudar a direção, é preciso acreditar que você pode. Não porque alguém pensa ou diz que você tem que ser diferente, mas porque sempre há o que melhorar, sim. Porém, a partir da perspectiva que você tem sobre o que é “ser melhor”, nunca a partir do que tange o olhar de outrem.
Eu te convido a experimentar, ainda que aos poucos, o poder de construir e gerir a própria história. Acordar aquele sonho que, há muito, você guardou, por não acreditar ser possível realizar. A iniciar o processo de entender quem você realmente é, para que, quando for perguntada, tenha certeza de como responder. Que seus propósitos sejam tão claros, que as pessoas não encontrem espaço para te desestabilizar, ou te tirar do caminho que você mesma traçou, com amor e respeito a quem você é.
Aceita-te. Reestrutura-te. Reconstrói-te. Encontra o caminho que é o seu, e segue-o com a ânsia de uma criança que descobre que pode andar. Tenho certeza de que você é muito mais capaz de construir sua própria estrada, do que pensa. Comece sendo um pouco mais gentil com você mesma, não se esquecendo de o ser com os outros. Desapega-te dos preceitos que lhe foram impostos desde quando você nem se lembra. E, nunca se esqueça do que é mais importante: Você não precisa provar nada a ninguém, incluindo a você.
Luz e Paz!
Até a próxima!
**Dedicado à minha amiga Gislene Rangel, cuja inspiração me trouxe este texto.
Captou com maestria a mensagem, Beth. E a aposta, nem sempre é a nosso favor. 😉
Interessante esta imagem de pratos girando,de pratos caindo...De pratos quase parando...Num palco,como um espetáculo preparado por uma única pessoa...
Às vezes,no nosso cotidiano, colocamos vários projetos para girar ao mesmo tempo,enquanto uma plateia fica apostando se vamos dar conta.