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MEMÓRIAS DE AFETO

Foto do escritor: CARMEN SANTOSCARMEN SANTOS

Hoje quero trazer a lembrança daqueles que mais me inspiraram em minha trajetória. O título deste texto é uma homenagem a Rubia Arce que, com uma delicadeza especial, ensinou-me a ter um novo olhar para as memórias de afeto. Se perguntarmos para as pessoas qual o lugar lhes traz mais memórias afetivas, boa parte delas responderá que é a cozinha.


Os odores, sabores, e a constância à mesa serão as referências. Pode ser a cozinha da própria casa, da avó, de tios distantes. Porém, se a pergunta for quanto ao móvel que traz esta lembrança afetiva, a mesa será a campeã. Se refletirmos sobre esta questão, veremos que todos nós temos boas histórias para contar, cujo enredo se dá em torno de uma mesa. Nem sempre pela comida farta, pratos luxuosos ou requintados. Todo mundo tem uma história de pão com ovo, uma sopa, gemada, bolo de fubá com café, ou qualquer coisa tão simples quanto, aquecendo o coração.


A memória de estar ao redor da mesa da cozinha enquanto se aguardava a comida, se escolhia o arroz, ou se assistia a mágica da mistura de farinha, ovos, sal e leite, e dali surgirem bolos e doces feitos com muito amor.

Outros devem ter memórias do tempo em que se divertiam com os amigos à mesa em um jogo de baralho, ou mesmo, de tabuleiro. Aquele tempo que passavam sem que ninguém desse conta do adiantado da hora. Lembrança de gente rindo; do blefe; do grito de truco. Ou ainda, dos amigos sisudos concentrados nas cartas até que um dos jogadores desandar com o jogo ao fazer uma piada da situação.


Quem nunca esteve numa mesa a dois, mãos dadas sobre ela, quase repetindo a cena de ‘A dama e o vagabundo’, como o casal canino dividindo a macarronada e terminando em um caloroso beijo de amor por estarem comendo o mesmo fio de macarrão?


Não precisa haver velas, guardanapos de tecido e flor de centro. Apenas amor. Amor, carinho e unidade representados na fartura de conversa olho no olho, solta e franca, entremeada de risada, projetos e dedicação integral um ao outro.


Há quem possa mencionar, ainda, as memórias criadas em torno de mesas de bar, confraternizando com os amigos. Lembranças, muitas vezes, impublicáveis, mas que ganham ares de lenda, pois são recontadas e recriadas em todos os encontros, depois de certo tempo de amizade com reverência e solenidade, ainda que seu conteúdo possa ser “proibido para menores”. Que nossos colegas universitários nunca nos delatem.


Minhas melhores lembranças de família são em torno de mesas. Ainda que, estivéssemos sentados na cozinha bebendo água. Não era pela comida. Era pelo poder agregador que ela trazia. A possibilidade de se colocar os cotovelos nela e poder segurar o queixo com as mãos enquanto escutava as histórias das minhas primas, tias, sogros e avós. Ou ainda, deitar a cabeça nos braços e continuar a participar da escuta.


Foram conversas em torno da mesa baixa na varanda da casa da praia dos meus tios durante um jogo de buraco. São lembranças usando uma banqueta como mesa, enquanto tomávamos sol na praia e vinha o rapaz gritando – Olha o mate! Olha o sorvete! Conversas ao redor da mesa na cantina da faculdade, enquanto matávamos aula (pouquíssimas vezes, será?).


Conversas com meu filho, enquanto fazíamos a lição da escola na mesa da sala. Estou aqui, na mesa do escritório, resolvi escrever sobre mesas e lembranças, afinal, foi a partir dela que restaurei as minhas relações e o meu eu interior. Foi numa mesa no meu aniversário, com poucos amigos que não via há tempos, que tive a sensação profunda dita por Rubia Arce, que as nossas melhores memorias devem ser registradas... No instante da celebração de meu aniversário, senti algo diferente que parecia somente um instante registrado desde o último encontro. Do tanto que rimos, contamos casos e criamos planos para viagens futuras, pós pandemia. Durante um tempo, eu analisei a cena. Não julgando. Simplesmente desfrutando de tamanha amizade e criando mais memórias. Reforcei em meu coração o porquê de gostar tanto de encontros familiares e o quanto espero podermos estar novamente sentados ao redor de uma mesa, com a mesma vibração de alegria.





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6 Comments

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Maria Luiza Mota
Maria Luiza Mota
Apr 15, 2021

"Memórias de afeto" Que delicia! Fui lendo e tentando me lembrar de afeyos registrados. Parabens!

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Anjo e Cia
Anjo e Cia
Jul 13, 2021
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Que lindeza!

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Beth Bretas
Apr 15, 2021

"Se refletirmos sobre esta questão, veremos que todos nós temos boas histórias para contar, cujo enredo se dá em torno de uma mesa. Nem sempre pela comida farta, pratos luxuosos ou requintados. Todo mundo tem uma história de pão com ovo, uma sopa, gemada, bolo de fubá com café, ou qualquer coisa tão simples quanto, aquecendo o coração."


Verdade,Carmem! Uma mesa tem poder e muita história!

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Anjo e Cia
Anjo e Cia
Jul 13, 2021
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Sim Beth, à mesa temos oportunidades raras de afeto.

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Claudia Cardoso
Claudia Cardoso
Apr 15, 2021

Exatamente isso, memórias afetivas que nos transformam, nos faz sermos melhores!! A Rubia tem este dom de nós inspirar a ter memórias lindas. Lindo texto, obrigada por compartilhar ❤️

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Anjo e Cia
Anjo e Cia
Jul 13, 2021
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Foi uma honra compartilhar com vocês.

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