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O APAGÃO

Foto do escritor: CARLA KIRILOSCARLA KIRILOS

Passava um pouco da meia-noite do dia 19 de julho e, como normalmente faço antes de dormir, fui dar uma olhada nos sites de notícias, quando me deparei com uma manchete intrigante em um jornal inglês. A notícia relatava que vários locais na Austrália estavam enfrentando um colapso irreversível dos computadores que utilizam o sistema operacional Windows, da Microsoft.


Devido a esse evento inesperado, um grande número de voos foi cancelado, pois os aeroportos australianos ficaram totalmente incapazes de operar sem seu suporte digital.


Confesso que, como já estava com sono, presumi que a notícia fosse apenas um problema regional, provavelmente causado por um ataque de hackers em busca de dinheiro ou notoriedade. Assim, caí no sono sem dar maior relevância à informação.


No entanto, ao acordar e realizar minha habitual verificação matinal das notícias, fui surpreendida por uma avalanche de manchetes alarmantes. O que começou na terra dos cangurus e bumerangues se espalhou rapidamente pelo mundo, especialmente no hemisfério norte, criando um verdadeiro tsunami digital. O mundo estava conhecendo um novo tipo de catástrofe: o apagão cibernético. Não foi um blecaute de eletricidade, mas um apagão virtual.


O que provocou a confusão não foi uma falha do sistema operacional da Microsoft, mas sim um “bug” (erro) numa atualização do programa Falcon Sensor, desenvolvido pela empresa de segurança cibernética CrowdStrike, que serve a um enorme número de empresas ao redor do mundo. Ironicamente, a função principal do Falcon Sensor é proteger computadores de ataques de hackers.


Por causa desse erro banal, escondido em uma única linha do programa de atualização do Falcon Sensor, todos os computadores rodando Windows que receberam esta atualização, via internet, colapsaram como se fossem atingidos por um meteoro virtual que destruiu completamente seu mundo digital. No Brasil, felizmente, o estrago foi relativamente pequeno se comparado a outros países, mas mesmo assim, causou danos.


Analisando melhor as informações que chegavam, fui me dando conta de quão reféns e dependentes nossa espécie está ficando do arcabouço digital que hoje rege quase todos os processos vitais da vida humana.


Então, pensei. E se...


“O dia amanheceu normal, com o sol entrando pela fresta da janela. Como de costume, espreguicei e, num gesto quase automático, peguei meu celular. De imediato percebi que a conexão estava fora do ar. Sem notificação de "bom dia" dos amigos, sem atualizações do feed, sem “zap” para responder. Algo estava esquisito. Levantei correndo e fui checar a conexão da internet. Nada. Tudo fora do ar. Sem Wi-Fi. E, estranhamente, nem o 5G funcionava. Resolvi então ligar a TV. Nada. O rádio. Nada. Daí bateu um pânico geral. Que loucura é essa que está acontecendo? 


Entendi que precisava sair de casa e buscar informações. Na rua, percebi que a situação era ainda mais grave do que eu imaginava. As pessoas estavam desconcertadas, tentando desesperadamente usar seus aparelhos sem sucesso. Semáforos desligados, trânsito confuso e descontrolado, caixas eletrônicos inoperantes, lojas fechadas porque os sistemas de pagamento não funcionavam. As ruas estavam caóticas, com um misto de perplexidade e desespero no ar.


Ao chegar no trabalho, fui informada de que o prédio não iria abrir. Estava fechado. Sem sistema, sem trabalho. E todos na mais profunda ignorância sobre o que estava de fato ocorrendo. Na verdade, éramos como “zumbis”, vagando perdidos por uma cidade sem internet, telefone, televisão ou qualquer meio digital que gerasse informação. O caos havia chegado!


Na realidade, na nossa busca obsessiva pela conveniência, propiciada por um sem número de aplicativos de celulares e programas computacionais, o ser humano vem cada dia mais renunciando de forma decisiva à sua agência natural, ou seja: a sua capacidade de agir no mundo que nos cerca, seja física ou intelectualmente, por conta própria.


O que fazer diante disso? Aos poucos fomos forçados a encarar uma realidade offline, como se tivéssemos voltado no tempo.


Nas horas seguintes, a cidade foi se adaptando à nova realidade. As pessoas começaram a se reconectar da maneira mais antiga: conversando cara a cara.  Apesar do tumulto inicial, havia uma estranha sensação de comunidade e simplicidade emergindo.”


O texto acima foi hipotético, mas acredito sinceramente que uma experiência forçada de desconexão como essa, nos faz refletir sobre nossa dependência tecnológica. Percebemos que, embora a tecnologia traga muitas facilidades, também nos torna vulneráveis. Segundo especialistas da área da tecnologia de informação (TI), este incidente global demonstrou categoricamente que pequenas, médias e mesmo grandes empresas ao redor do mundo não estão nem minimamente preparadas para enfrentar contingências como a ocorrida dias atrás, por não disporem de nenhum plano B eficaz o suficiente para prevenir, ou mesmo rapidamente solucionar tais incidentes pontuais. Muito menos outros mais graves!


Na realidade, os mesmos especialistas de TI alertam que não só outros colapsos globais vão ocorrer novamente e com maior frequência, mas provavelmente eles terão um impacto ainda mais grave no futuro, especialmente se e quando os ditos “sistemas espertos”, baseado em tecnologias da famosa inteligência artificial”, passarem a ocupar o lugar dos sistemas de controle e automação digitais atuais.


Muito sério tudo isso! E, o que me assusta, é que o tal apagão cibernético, assim como veio de repente, passou e não deixou nenhuma lição no sentido de que precisamos equilibrar o digital com o real, de cultivar relações pessoais e habilidades práticas que não dependem de um botão de "ligar". E isto me deixa muito preocupada.










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6 Comments

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
Aug 09, 2024

Estamos caminhando sob o risco de sermos pegos pela mesma arapuca que criamos. Nos tornamos reféns da tecnologia e, provavelmente, a minha geração X foi a última a conhecer o mundo analógico. Quem veio depois não tem a mínima condição de sobreviver, sem um longo processo de readaptação, num cenário distópico, como este que você tão bem descreveu!

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Guest
Aug 06, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Toda esta relação atual com a tecnologia é preocupante demais. Um novo vício. E, o pior, é ver a dependência das crianças. E tudo parece normal. Perigo! 💋💋 Cleusa

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Guest
Aug 04, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

“fui me dando conta de quão reféns e dependentes nossa espécie está ficando do arcabouço digital que hoje rege quase todos os processos vitais da vida humana.”

Que perfeito isso! Lúcia

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Guest
Aug 04, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Também acho que poderemos viver mais apagões e, quem sabe, até igual ao seu texto. Já imaginou a loucura que será? Apocalíptico! Ótimo texto! Beijos, Luiza

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Guest
Aug 04, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Nossa, Carla! Que texto esclarecedor! Confesso que não tinha lido muito sobre este apagão, mas agora liguei o alerta. Parabéns! Ana

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