O AR DA TUA GRAÇA
Algumas vezes, o ar fica limpo e agradável, como se dores e desamores fossem inexistentes.
Fica deveras bom de respirar.
E tem aquelas brisas suaves, que chegam sem avisar e trazem o frescor e a doçura do inspirar. Brisas que possuem nome e sobrenome, e caminham por aí, despretensiosamente. Elas representam o ar puro que substitui o rançoso, e enche nossos pulmões de esperança e vida.
Outras vezes, o ar se contamina. E, não menos que de repente, podemos perceber o peso ao respirar. Não incomum ficar rarefeito, como se não houvesse suficiente para alimentar nossos pulmões. Pesado como uma nuvem densa e escura, vai nos envolvendo, sorrateiramente. E tem aquele vento gelado, que quando chega, nos faz enrijecer os músculos e trancar os dentes, como se precisássemos nos defender. E calafrios percorrem o nosso dorso, como um prenúncio de tempestade.
Isso, quando não chega o furacão, que passa destruindo tudo que vê pela frente, muitas vezes, parece nem perceber o tamanho de seu poder de destruição. Machuca, destroça, desestrutura. Desencanta.
Aqueles de nós que sobrevivem aos furacões, tendem a temer o ar, e cada curva que ele faz.
O vento que move os barcos, empurrando as velas. O que faz com que vá mais rápido ou mais devagar, para uma ou outra direção, de acordo com o ajuste delas. O mesmo ar em movimento que, por ocasião do outono, desprende as folhas das árvores no exato momento em que a natureza determina, e cobre o solo com um belíssimo tapete natural.
O sopro curativo.
Aquele que sara o dodói, naquelas ocasiões em que a dor precisa ser sanada, e as lágrimas chegarem ao fim. O ar que sai dos pulmões de quem inspira confiança e parece ser o único alívio possível naquele momento.
Quando o ar está leve, o dia claro e as nuvens parecem não pretenderem retornar, uma sensação gostosa de contentamento nos preenche, e nos sentimos como em um abraço sincero e acolhedor.
Acho que é isso que se chama paz.
É muito bom estar nesse lugar. Mas, ainda melhor, reconhecê-lo.
O clima que favorece a temperatura certa – para mim, nem tão quente, nem tão fria – um perfume percorrendo o ambiente, um assento macio e aconchegante, um momento perfeito para respirar. Aquele instante em que se para, inspira fundo e sente. Em que se percebe no ar um aspecto de mensageiro, que entrega com êxito a mensagem que traz consigo e que há tanto gostaria de entregar, mas não encontrava o destinatário disponível para receber.
No entanto, o clima agradável parece ser diferente para cada um. Uns preferem o friozinho do inverno, outros o calor intenso do verão. Alguns aprendem a voar com os furacões e, ainda há outros que percebem o vento gelado como brisa fresca. É muito raro encontrar alguém que sente como a gente sente, que percebe o clima igual.
Hábil, aquele que sabe que não há como controlar o tempo,
ainda que rejeite o frio ou o calor, o vento ou frescor. E entende que o controle está em saber ajustar as velas, e agasalhar-se ou despir-se quando convém.
Gratidão por ler até aqui!
Com amor.
Até a próxima.
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Seu texto me lembrou o movimento do vento,da folha...
"O sopro curativo.Aquele que sara o dodói." - adorei!
Namastê!
Belíssimo texto! 👏👏👏👏