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O QUE MOVE AS PESSOAS

Foto do escritor: BETH BRETASBETH BRETAS

Esperava a chuva passar debaixo de uma extensa marquise, junto com outras pessoas, enquanto a chuva caía torrencialmente.


E entre as pessoas, duas senhoras alegres e divertidas que brincavam com a vida como quem sabe fazê-lo.


Uma contou que aos 29 anos enviuvou e durante 10 anos criou o filho sozinha. Então, um dia, conheceu um austríaco rico e com ele se casou. Estava com 70 anos e, daqui para frente, sabia que tudo que acontecesse na vida, seria lucro. O marido estava com 80 anos e se morresse, até isso, seria lucro, ela herdaria toda a fortuna dele. 


E elas riram gostosamente e fizeram todo mundo rir. 


Entre o grupo, estava também um senhor conhecido delas, da mesma idade que disse bobagens: pagava os pecados com um filho “que não prestava” e não separava da mulher por dó, ela não tinha para aonde ir.”


Elas perguntaram se era o rapaz que estava com ele no hipermercado. Ele disse que aquele era o filho bom. 


Todos gargalharam.


Elas rebateram: “não existe filho mau ou filho bom. Existem espíritos atrasados ou evoluídos, quando chegam para a gente, temos que aceitar”. 


Ele respondeu que estava aceitando, pois o filho estava dentro de casa e ele não podia fazer nada e acrescentou mais bobagem: pelo menos a mulher faz as coisas da casa, porque nem café sei fazer. 


Novas gargalhadas sacudiram a marquise.


Que horror! Um homem velho, acabado e feio como você não sabe fazer seu café e ainda tem coragem de falar que quer colocar a mulher na rua?! Se fizer isso, quem vai querer você? É melhor cuidar bem da que tem! Se olhe no espelho, escute as bobagens que você fala!


 E todos riram muito, enquanto a chuva caia e eu pensava:


“Todo fato apresenta na realidade duas faces:

Ele mesmo e a sua versão”.


E a chuva foi diminuindo até parar de chover, naqueles momentos de espera divertida, onde tantas informações sobre experiências alheias foram colhidas.


Depois da chuva, sem ninguém perguntar o nome do outro, todos se despediram e voltaram para a própria realidade.


Segui pensando sobre o “bem-estar” das pessoas e lembrei que essa expressão, na maioria das vezes, está relacionada ao verbo simplificar. 


Já se perguntou o que é ter uma vida simples?

 

Seria mudar de casa, trocar de mulher, trocar o carro por um popular, arrumar outro emprego, mudar de cidade? 


O que devemos entender sobre o ato de simplificar?


Seria saber que:


“O mais importante da vida não é a situação em que estamos, mas a direção para a qual nos movemos.”


Ou, simplificar seria criar um plano: o que irei cortar, o que irei fazer, como irei fazer, como irei mudar?


Ou será como disse Martin Luther King:


“Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.”



Ainda não encontrei a resposta, mas já sei que bem-estar não é só cortar coisas, mas é também mudar as palavras com as quais nos comunicamos.


A palavra tem energia e essa energia influencia a nossa vida. Perceber qual a intenção da comunicação expressa na palavra nos pontua.

 

Soltar palavras, sem saber a intenção, pode provocar um dano tão grande que nenhuma explicação salvará a escolha das palavras.

 

A lembrança daquele senhor, me diz o quanto isso é verdadeiro!


E como é verdadeiro também não precisar usar as palavras para se comunicar - aprender a liberar o silêncio.


A condição de vida não está só naquilo que precisamos, mas também naquilo que criamos, construímos ou destruímos.


Não há como deletar o tempo criado. Os pensamentos inventados. As palavras ditas e o silêncio pronunciado - tudo criou história.


Então, pode ser que simplificar a vida passe por um processo de mudança conceitual.


E que sentir bem-estar passe pelo processo de se embriagar pela vida e não de cortar para poder simplificar.


Ou, talvez, o nosso bem-estar passe pelo processo de nos libertar das coisas que toleramos.


Toda essa reflexão foi por conhecer um senhor que vive da forma como não gostaria de viver, mas que aceita isso a ponto de se expor sem nenhuma vergonha, entre gargalhadas, debaixo de uma marquise, acompanhado por pessoas conhecidas e desconhecidas.


E olhando para o reflexo das coisas no asfalto molhado, me pus a pensar sobre o que move as pessoas... 


E me lembrei de um maravilhoso poema:



“Você tem que se embriagar sempre.

Só lhe resta isso.

É o único jeito para não sentir

O terrível fardo do tempo...


[...]


Mas embriagar-se de quê?

Vinho, poesia ou virtude?

Você quem sabe,

Mas embriague-se.


E se, às vezes, nas escadas de um palácio

Ou na grama verde de uma sarjeta

Na solidão lúgubre de seu quarto

Você acorda de novo

Com a embriaguez indo embora

Ou já tendo acabado

Pergunte ao vento, às ondas,

Às estrelas, ao pássaro, ao relógio

A tudo que voa, a tudo o que geme,

A tudo que se move, a tudo o que ressoa,

A tudo o que fala

Pergunte que horas são

E o vento e as ondas

As estrelas, o pássaro e o relógio

Vão responder:

“É hora de se embriagar!”


(T.1 - Ep.13 da Série “Vida Incompleta” / Netflix)



EMBRIAGUE-SE!


NAMASTÊ!






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CHUVA INUSITADA

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11 Comments

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Guest
Aug 13, 2024

Gostei muito também do embriague - se. Vivo embriagada na beleza do lado bom da vida, na perfeição da natureza, na capacidade do homem e na doçura da poesia: seja na prosa, no poema, nas artes em geral e no olhar de quem sabe poetar. A chuva é uma poesia.

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Guest
Aug 12, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Que lindo! 👏Toda hora é hora de se embriagar. Sou embriagada por natureza. E você como está? Tem se embriagado ?

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
Aug 10, 2024

Embriagar-se de simplicidade e libertar-se dos excessos, principalmente excesso de palavras, pois, como saber se as palavras soltas estão divertindo ou ferindo quem está ali quietinho? Bom mesmo é quando elas estão ali só alimentando a curiosidade e a sagacidade de uma cronista de alma poeta! Parabéns pelo texto!

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Guest
Aug 06, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

A sua vida não se simplificará sozinha. Você precisa agir.

Conhece o livro do Bill Hybes: Simplifique: dez práticas para por a alma em ordem? Vale à pena. Beijocas, Carla Kirilos

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Guest
Aug 06, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Escutei o áudio. Adorei! Que lindo! Gratidão!

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