OLHA A BALSA ALI!
Como junho é o mês dos namorados, resolvi contar para vocês, aqui no Blog Bendita Existência, uma história totalmente verídica que vivi há muitos anos, nesta data.
Era junho de 1979. Eu, carioca e meu marido, mineiro, morávamos em Porto Velho, ex-Território de Rondônia. Estava grávida de 6 meses do nosso primeiro filho e viver uma vida cheia de aventuras fazia parte da nossa história.
![](https://static.wixstatic.com/media/44bda1_fa10afff435e489fa146a072ad8eb006~mv2.jpg/v1/fill/w_956,h_582,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/44bda1_fa10afff435e489fa146a072ad8eb006~mv2.jpg)
Assim, numa sexta-feira, véspera do dia dos namorados, resolvemos “enforcar” o expediente da tarde e viajar para passar o fim de semana especial em Manaus. Tranquilo! Nunca havíamos ido lá de carro. Tínhamos um possante Fiat 147 e pelo papo com conhecidos a viagem demoraria por volta de 13h devido as 9 balsas que tinham que ser atravessadas. Sem dúvida, uma bela e romântica aventura!
Confesso que nem nos lembramos que, na época, existia uma história dos postos de gasolina fecharem às 20h. E só nos demos conta disso quando, chegando num dos pouquíssimos postos que havia na tal estrada, não vendiam mais gasolina por causa da hora.
Pânico!
O que fazer? Estávamos no meio do nada, com jacarés cruzando a estrada e sem gasolina. Imploramos ao frentista, apelamos para o barrigão, mas ele estava irredutível. Até que, de repente, parou um outro carro que também queria abastecer. A mesma resposta. Só que com eles foi diferente. De repente, o motorista sacou um revólver, apontou para o frentista e disse: - Amigo, eu sou delegado. Você vai sim abrir esta bomba e colocar gasolina no meu carro e no do casal aí da frente.
Uau! Sabem um misto de felicidade com apavoramento?
Pois foi exatamente isto que eu senti. Mas aproveitamos o trabuco do delegado e enchemos o tanque da charanga. Afinal, que frentista enfrentaria um delegado armado no meio do nada em Rondônia? Além disso, era melhor seguir viagem e amanhecer chegando em Manaus do que ficar parada naquele lugar sujeito a tudo e a todos.
Depois de muitas balsas, jacarés, revólveres e sono, muito sono, conseguimos chegar. Em Manaus foi ótimo! Cinema, teatro, passeio na Zona Franca e jantar romântico. Estávamos nos sentindo totalmente cosmopolitas!
No domingo, hora de voltar. O trabalho nos esperava na segunda cedo. Que loucura! 13h para ir, 13h para voltar, apenas para passar um sábado diferente em Manaus! Se contar ninguém acredita não é mesmo? Mas foi verdade e foi ótimo!
A viagem de volta foi menos estressante porque era dia e o caminho não era tão novidade.
Até que...
Por volta das 21h, chegamos para a travessia da última balsa. Falei: - Amor, olha ali a balsa indo. Será que demora para ela voltar?
- Vou ver. Peraí
Passou-se um tempinho e meu marido volta. Senti no ar que algo estava estranho
- O que houve? Vai demorar muito?
- Se eu contar que hoje não tem mais balsa você acredita?
- Como assim? Nossa casa está logo ali do outro lado do rio...
- Pois é... mas balsa agora só amanhã às 6h da manhã.
Socorro! Cadê o celular, ou o GPS, ou a internet 4G para nos salvar? Não era fácil acesso à informação em 1979. Como podíamos não saber que havia horário determinado para a travessia das balsas? Na ida não tivemos nenhum problema (claro que na ida passamos por aquela por volta do meio dia)
- Vamos ter que dormir deste lado da margem.
- Deste lado? Dormir aqui? Onde? No carro?
Juro que não sou uma mulher dada a frescuras (afinal eu morava em Porto Velho em 1979!) mas, sinceramente, dei uma rápida olhada ao redor e não enxergava nada que se parecesse com um lugar para “pousar” como nos orientou o chefe das balsas.
Comecei a pensar...Vai aparecer alguém com uma arma e fazer esta balsa atravessar, vai aparecer, vai aparecer...mas nada. O tempo foi passando e eu fui me desesperando. Minha casa e minha cama estavam logo ali na outra margem, mas por que tinha que ter este rio no meio?
Enquanto isso, meu marido estava fazendo um reconhecimento da área. Tudo que havia ali perto era um boteco bem beira de estrada, ou melhor, bem beira de rio. Vi que meu marido estava conversando com o cara do balcão e pensei que ele estivesse descolando algo para comermos porque, a esta altura, o estoque de biscoito e frutas que tínhamos no carro já havia terminado e mulher grávida tem uma fome!
Depois de um tempo, chega meu marido todo feliz:
- Consegui um quarto. Atrás do bar tem um que o cara aluga. Vamos ver?
- Um quarto atrás deste bar? Para alugar?
Será que vocês conseguem imaginar a cara que eu estava fazendo?
Incrível! O cara nos deu um pires com uma vela ( em Rondônia, nesta época, a luz era por gerador, não havia luz elétrica e normalmente às 18h e 30min, tudo ficava no escuro. Ali, luz só de vela ou lampião), a chave e nos levou para ver o quarto.
Pensem num choque elétrico bem forte. Pois é, foi isso o que senti. O lugar era um barracão de madeira (cheio de frestas), com algumas baratinhas passeando por lá, uma cama de casal e dois travesseiros com as fronhas brancas cheias de fios de cabelo. Impossível, pensei! Não consegui falar. Estava em choque. E comecei a chorar de pânico.
Nisto, escuto meu marido acertando com o cara:
-OK. Vamos ficar.
Ao ver minha cara de horror meu marido foi logo falando:
- Meu bem, nem vem. Vai ser aqui mesmo. Tenho que dormir. Estou morto. Vamos ficar porque não há opção. Amanhã 6h pegamos a balsa. Além do mais, com esta barriga você não consegue dormir no carro e é perigoso. Por favor, confie em mim e se acalme.
Bom, fazer o quê? Meus olhos marejados estavam fixos nos travesseiros cheios de cabelos. Nunca conseguiria deitar naquela cama. Nunca mesmo! E ainda tinha o risco da vela cair e pegar fogo em tudo. E as baratinhas?
Mas, martelo batido. Meu marido já estava pagando para o cara.
Entendi que estava lascada! O jeito então era pensar em tornar o horror o mais brando possível. Logo lembrei da toalha fofinha e cheirosa que eu tinha comigo no carro. Peguei-a, coloquei do meu lado da cama e fiquei ali, igual a uma estátua, vigiando a noite inteira para não sair um milímetro sequer do espaço daquela toalha. Um olho na toalha, um outro na vela e os ouvidos no passeio das baratinhas. Que noite longa! E que balsa tão almejada!
Foi mesmo uma noite inesquecível, fechando com “chave de ouro” a viagem romântica de final de semana para Manaus. Loucura, loucura!
Mas de tudo que enfrentei, sabem o que mais me impressionou? Olhar para o lado e ver meu marido dormindo como um anjo naquele lugar. Ele dormia mesmo, sono profundo. Nada o abalava!
Este foi, sem dúvida, um dia dos namorados que ficou eternizado na minha memória e que sempre me faz lembrar que: “O choro pode durar toda uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer.” ( Salmo 30:5)
Não se esqueça de deixar um comentário, e seguir nossas redes sociais:
![Carmen Santos Autora do Bendita](https://static.wixstatic.com/media/44bda1_323e15033f4b444cbeeda212e515afa5~mv2.png/v1/fill/w_980,h_327,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/44bda1_323e15033f4b444cbeeda212e515afa5~mv2.png)
Não sei se daria conta de ficar ali. 😂😂😂
Como tecemos histórias em nossas vidas,não é Carla?E quantas se tornam inesquecíveis!🎩