OUVIR OU ESCUTAR
- TEREZINHA ARAÚJO
- 23 de fev. de 2023
- 3 min de leitura
A função principal de um Psicólogo ou Psicanalista é a escuta de seus pacientes. Fazer Clínica é introduzir a escuta, abrir espaço para o sujeito da fala, individual e singular, possibilitar a escuta de cada um em sua subjetividade. Os sofrimentos, as inibições, os sintomas, as angústias são particulares e carecem de escuta qualificada.
Mas, e no dia a dia? Nas nossas relações com as pessoas, será que sabemos escutar o outro? Será que sabemos escutar ou apenas ouvimos?

Ouvir é diferente de escutar. Ouvimos com nosso aparelho auditivo, mas a escuta requer, além da audição, uma disponibilidade para o outro, requer que façamos silêncio para ouvir a pessoa com a qual estamos em interlocução. Requer que estejamos inteiros e disponíveis para deixar o outro falar sem ser interrompido, sem que já estejamos preparando uma resposta.
FAZER SILÊNCIO PARA O OUTRO
A cultura da urgência na qual vivemos não tem possibilitado processos de comunicação verdadeiros. As novas tecnologias vêm para resolver essa questão, viabilizando o tempo real, no qual, o mundo conversa no mesmo instante. É possível assistir até a guerras pela TV ou internet, realizar jogos virtuais, conversar com quem está do outro lado do mundo, dentro da sala dele, mas a verdadeira comunicação ainda não se realiza.
Não sei se acontece só comigo, mas, às vezes, alguém liga, ou numa conversa presencial, a pessoa pergunta: “Tudo bem com você? Como você está?”. Mas, antes que eu responda, ela começa a falar, falar e, às vezes, nos separamos e eu não disse nada. Não houve disponibilidade para eu falar.
Vivenciamos, ainda, as ditas DRs, seja na família, ou no trabalho, nas quais, quase sempre, ambos querem ter razão e provar seu ponto de vista, e a escuta não existe. Enquanto o outro fala é o tempo para pensar em como rebatê-lo. Será isso uma escuta de verdade? Está-se procurando o diálogo, a resolução do conflito, a busca de um ponto de convergência?
A alteridade neste contexto deixa de ser valor, tende ao apagamento. Nesta cultura do espetáculo, não importam mais os afetos, o outro é somente objeto de uso e gozo. É a exaltação pura do eu.
A escuta é a possibilidade do encontro entre dois sujeitos, que tanto podem ser muito próximos, quanto recém conhecidos. Escutar sem nenhuma pretensão, sem nenhum a priori. Escutar para facilitar o processo do sujeito de falar sobre o seu incômodo, de sua situação atual e perspectivas futuras. É possibilitar um diálogo, uma troca, um crescimento na relação que se estabelece entre dois sujeitos que têm interesse um no outro.
EXERCÍCIO DE ESCUTATÓRIA
Ouvi esse termo há muito tempo, de Rubem Alves, em um texto do mesmo nome, e nunca mais deixei de pensar sobre ele e como é difícil a sua prática. Porque a verdadeira escuta requer humildade, fazer calar o nosso eu, as nossas certezas, é deixar o novo entrar, é reconhecer nossas limitações de percepção, conhecimento e é, em última instância, querer saber quem é o outro, como se sente, de que precisa. E ainda pensar: O que eu preciso mudar para que ele seja mais feliz, como eu posso ajudá-lo não atrapalhando, não sendo pedra de tropeço?
Quando escutamos as pessoas individualmente, ou mesmo coletivamente, estamos buscando os sujeitos, dizendo-lhes que são importantes e que queremos saber o que têm a dizer. Escutando, estamos reconhecendo-os em sua semelhança, em sua diferença, sua palavra, seu lugar.
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Talvez esteja aqui,no ato de escutar o outro,o grande desafio das relações humanas.Fico pensando se,um dia, nosso ego aceitará não ser o vencedor.
Namastê!