PARENTES DO FUTURO: CAMINHANDO COM SONHOS E FÉ

Li recentemente um trecho do livro Terra Sonâmbula, do escritor e biólogo moçambicano Mia Couto, (que é, na verdade, o pseudônimo de António Emílio Leite Couto), que diz:

"O que faz andar na estrada?

É o sonho.

Enquanto a gente sonhar,

a estrada permanecerá viva.

É para isso que servem os caminhos,

para nos fazerem parentes do futuro."

Essas palavras ficaram martelando em minha mente, e não consegui evitar a sensação de que a estrada da vida, apesar de todas as suas pedras e desafios, é uma jornada que nos conduz ao futuro, àquilo que ainda somos chamados a ser. A cada passo dado, a estrada se mantém viva, não apenas porque caminhamos, mas porque ela nos conecta com algo maior: o sonho que nos impulsiona e a fé que nos guia.

Em vários momentos da minha vida, me vi diante de obstáculos aparentemente intransponíveis. O cansaço da alma, a sobrecarga das responsabilidades, a sensação de que as pedras no caminho estavam me aprisionando em um ciclo de frustração. E percebi que foi justamente nesse ponto de exaustão que fez sentido a reflexão que faço agora sobre o poema recém lido: o sonho não é apenas uma ideia distante; ele é a força que mantém a estrada viva. E a estrada, por sua vez, é a nossa conexão com o futuro.

A palavra “parente” no poema me chamou a atenção. O que seria “ser parente do futuro”? Ser “parente do futuro”, para mim, é entender que cada escolha, cada passo que damos no presente, está entrelaçado com aquilo que ainda está por vir. Como se fôssemos parte de um grande plano, em que o futuro é uma extensão do que já estamos vivendo agora, mas que só se revela com o tempo. Não somos apenas espectadores do que está por vir; somos, de certa forma, seus parceiros. O caminho não é um mero percurso, mas um elo que nos torna familiares do que ainda vamos conquistar, das lições que vamos aprender, das pessoas que vamos nos tornar.

Essa ideia de sermos "parentes do futuro" não significa ter todas as respostas, nem uma visão clara de cada passo à frente. Muitas vezes, a estrada está com neblina e o futuro parece um mistério. Mas é nesse mistério que a fé se torna nossa aliada. Não uma fé cega ou inabalável, mas uma fé simples, silenciosa, como um grão de mostarda. Uma fé que nos permite dar o próximo passo, mesmo sem enxergar o final do caminho. Como diz a Bíblia:

“Eu lhes digo a verdade: se tivessem fé, ainda que do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a este monte: ‘Mova-se daqui para lá’, e ele se moveria. Nada seria impossível para vocês.”  (Mateus 17:20)

A fé, nesse sentido, é o que nos conecta com o futuro, com aquilo que ainda estamos chamados a viver. Ela nos dá a força para continuar, mesmo quando as pedras parecem se acumular à nossa frente. Não porque a estrada vai se abrir magicamente ou porque as dificuldades desaparecerão, mas porque a fé nos lembra que cada passo dado é uma aproximação do que somos destinados a ser.

A vida, com suas pedras e obstáculos, não é um fardo, mas uma oportunidade. Cada caminho tortuoso, cada momento de insegurança, é parte do processo que nos torna parentes do futuro. E é com essa perspectiva, com essa confiança na jornada, que seguimos em frente, sabendo que, ao final, a estrada não será apenas lembrança de um sonho que ficou no passado, mas um testemunho da fé que nos permitiu alcançar o futuro.

Então, se hoje você se encontra cansada, desanimada ou sem forças para continuar, lembre-se: a estrada está viva. O sonho ainda pulsa dentro de você, mesmo que você não o veja claramente agora. Não desista. Cada passo que você der, mesmo que pequeno, o aproxima do que você ainda pode ser. A fé, realmente tem o poder de mover montanhas. Permita-se continuar caminhando, porque o futuro, com todas as suas promessas, está à sua espera. Não pare. A estrada é sua, e ela está viva.

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