POBRE NAPOLEÃO
Século XXI e o homem acreditando que o mundo é só regido por ele e seus computadores...
“Nossa tecnologia passou à frente de nosso entendimento,
e a nossa inteligência desenvolveu-se
mais do que a nossa sabedoria.”
Então, penso nas relações humanas, penso em Nietzsche e em sua teoria sobre Amor Fati.
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O amor que aceita as coisas como elas são - que ensina a dizer sim para a existência, sem buscar pelo sentido de valores, sem reverenciar tecnologia.
Nietzsche defende amar a existência em sua plenitude, simplesmente.
“A minha fórmula para a grandeza no homem é o Amor Fati:
nada querer diferente,
seja para trás,
seja para a frente,
seja em toda a eternidade.”
Nietzsche
E embora aqui pareça, não é sobre resignação – ideia de homem estagnado, sem forças para enfrentar as dificuldades, crescer com as experiências ou como alguém que perdeu a esperança...
“que não é a última que morre, é a penúltima que morre e, quando ela morre, logo em seguida, o homem morre.”
A proposta do Amor Fati é parar de dizer não para a vida e passar a dizer sim, aceitando o destino das coisas como uma grande conexão visível ou invisível...
“A luz das estrelas mais longínquas chega tarde a nós, e, entretanto, o homem nega que tais estrelas existem. – Nietzsche
Quando nascemos, dançamos, cantamos e, como crianças, manifestamos Amor Fati.
“...um grande militar que estava servindo em Paris, certa manhã, levou seu filho pequeno até a praça, para uma caminhada matinal. Ficou muito contente quando a criança ficou fascinada pela estátua de Napoleão montado em seu cavalo...
A criança disse: “Papai, Napoleão é tão bonito, tão grande!” Você pode me trazer aqui todos os dias quando vier caminhar pela manhã, só para eu ver Napoleão?”
...Depois de seis meses, prestes a ser transferido, levou o filho pela última vez ao parque...
O filho o acompanhou, com lágrimas nos olhos, e disse ao pai: “Eu sempre quis fazer uma pergunta, mas ficava tão fascinado com o grande Napoleão...como este é o último dia, eu gostaria de saber.
Quem é esse sujeito que está sempre sentado em cima do pobre Napoleão?”
Salve! Salve as crianças!
Essas criaturas tão lindas, com sua forma de enxergar tão fantástica, capazes de se comunicar humanamente com bicho de estimação, bicho de pelúcia, bonecas, carrinhos... Napoleões!
Elas sabem que a vida é um milagre e é surpreendentemente rica em detalhes sem explicação: uma semente se torna árvore que gera frutos, flores que novamente se tornarão sementes de uma nova árvore cheia de frutos, flores que continuarão se transformando em sementes, frutos e flores num eterno ciclo renovador que não depende do homem.
“A árvore não prova a doçura dos próprios frutos;
O rio não bebe da sua própria água;
As nuvens não chovem sobre si mesmas.
Tudo o que Deus nos dá é para tocar vidas!” – Provérbio Hindu
Pássaros anunciam um novo amanhecer, todas as manhãs, e o homem não se surpreende, porque deixou de ser a criança curiosa e cheia de vida que um dia foi...
Pobres Napoleões!
Que vivem entre esses seres que continuam acordando, todos os dias, insensíveis, desligados da vida, olhando tudo de forma tão corriqueira, a ponto de se aborrecer com a criança no carro, na cadeira de trás, encantada com as paisagens da janela, porque ela, a criança, ainda possui o coração do provérbio Hindu que diz:
“O coração que está em paz vê uma festa em todas as aldeias.”
Só as crianças sabem aquilo que se traduz fora da rotina tão ilusória criada pelo homem que perdeu a capacidade de enxergar outros valores, fazer outras leituras sobre a vida e o nosso ser. Só as crianças sabem que
“No fim você vai ver que as coisas mais leves
são as únicas que o vento não conseguiu levar...”
Já fomos crianças capazes de amar sem figurar.
Fomos crianças que se deslumbravam com a essência da vida até sermos tão podados pelos adultos – que um dia foram podados também – e cairmos num ciclo vicioso, de sempre buscar por definições, como diz Jung: "O homem não sabe viver sem significados".
E então me lembrei de um exemplo fantástico, da fantástica Lya Luft, sobre uma mãe que se complica toda, para explicar significados:
“Um menino e sua mãe voltavam das compras no ônibus quase vazio...
No meio do trajeto, o diálogo:
- Mãe, que igreja é essa?
- Nossa Senhora Auxiliadora.
- Por que tem tanta Nossa Senhora? Não era só uma?
- É uma sim, filho, mas ela tem muitos nomes.
- E o nosso Senhor é São Pedro, né?
- Não, é Jesus, ora. Quem casou com ela foi São José. São Pedro era amigo de Jesus.
- Ah... e porque o José não é o Nosso Senhor, se era casado com Nossa Senhora? - a mãe começou a ficar inquieta.
- Acho que é porque Jesus e Nossa Senhora são mais importantes, filho.
- Mas o José não era pai dele?
- Não era de verdade, o pai dele era Deus, José era pai adotivo.
- Então Jesus não nasceu da sementinha do José?
- Não, filho, Deus fez brotar a sementinha direto em Nossa Senhora, foi um milagre.
- Ué, então não foi como nas pessoas...
Agora o silêncio do ônibus meio vazio podia ser cortado com faca. A mãe se fez de distraída, mas o menino pensava, concentrado.
- Mãe, como é que antigamente as primeiras pessoas sabiam como se fazia pra ter bebê, se ninguém tinha ensinado ela?
- Ora, filho, essas coisas, a natureza ensina.
- Mas a natureza não é pessoa para ensinar a gente...
- Quer dizer, quando a gente cresce, aprende por si.
E a mãe foi salva por uma placa:
- Mãe, olha, nessa placa estava escrito Rua Mozart! Eu acho que ele mora aqui!”
(In A Casa Inventada – Lya Luft)
NAMASTÊ!
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AMEI Digs ♥️♥️♥️
MARAVILHOSO! Adorei!
Que lindo texto, tia Beta!
Que belo texto! Muito lindo! Como é importante valorizar as crianças e ter um olhar sensível sobre elas!
Adorei o “pobre Napoleão” tão bem expressado pelo menino observador.👏👏👏 beijocas, Carla Kirilos