PRUDÊNCIA NATALINA
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Não sei mais se em um filme ou propaganda ou série...
A cena em que uma mãe me superou e me fez recordar o tempo em que havia cartinha para o Papai Noel na janela da nossa casa e coraçõezinhos batendo e olhinhos acreditando.
Uma mãe com uma menina no colo e três filhos, gêmeos, faixa de 03 anos, saiam para o enterro da vizinha. Já prontos, de terninhos, eles se recusavam a ir. Ela parou, se posicionou frente a eles, agachou, tirando um papel dobrado do peito e disse:
- Estão vendo isto? É o celular do Papai Noel.
Um deles, assustadinho, perguntou:
- Como você conseguiu?!
- Não importa! Se não comportarem, vou ligar para ele e dizer que vocês querem meias de presente de Natal. Vão arriscar?
Os três balançaram a cabecinha para lá e para cá.
Que lindeza de cena!!!
E mesmo que isso possa ser considerado abusar da inocência de uma criança, como há quem pondere, me desculpem, penso ser perdoável e lindo!
“Em cada adulto dorme uma criança que crê na magia do mundo e da vida. E a leva a sério porque, quando o menino brinca de ser pirata, está sendo realmente um pirata.” - Allan Percy
E não sei dizer o que é mais lindo: a inocência da criança ou a criatividade da mãe, nessa cena de prudência.
Não sei dizer o que é mais lindo: a forma que a mãe escolheu para controlar as crianças ou a confiança das crianças que acreditam em tudo que a mãe diz.
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A magia é uma ponte que te permite ir do mundo visível para o invisível.
E aprender as lições de ambos os mundos.” - Paulo Coelho
Inocentemente, sem nenhum senso crítico, eduquei meus filhos, incluindo fantasias que considerava ser um meio tranquilo e eficaz de ensinar o que não deveriam fazer, ao mesmo tempo em que eles me ensinavam a não subestimar a capacidade deles de leitura.
Tantas vezes, meus filhos questionaram a falta de noção das histórias infantis, como fez este garotinho:
“- Pai, se um dia, faltar dinheiro o que você faz com a gente?
- Ora, vou trabalhar mais e a mamãe também...
- Pai, se não tiver mais dinheiro meeeeesmo, você deixaria a gente no mato sozinho?
- Claro que não, filho, que ideia mais maluca.
- É... mas os pais de Joãozinho e Maria deixaram eles sozinhos no mato da Bruxa quando o dinheiro acabou...”
(In A Casa Inventada – Lya Luft)
Minhas crianças, como esse garotinho, me ensinaram a perceber a fragilidade que existe nas histórias infantis – que eu tanto acreditava...
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“Às vezes a gente quer muito uma coisa e então acha que vai querer a vida toda. Mas aí o tempo passa. E o tempo é o tipo de sujeito que adora mudar tudo. Um dia ele muda você e pronto... você vai querer crescer.” - Lygia Bojunga
E, eu ao crescer, passei a questionar as personagens criadas e escolhidas para educar minhas crianças, como a do Papai Noel - um homem branco que dá preferência para crianças brancas que possuem casa para colocar o sapatinho na janela. Casas com chaminé por onde ele desce, trazendo presentes só para as crianças bem-comportadas, na véspera de Natal. Dia em que ele chega voando em seu trenó puxado por oito renas, que o ajudam na tarefa de entregar presentes... Um bom velhinho que fora desse contexto não visita outras criança, na noite de Natal.
Descobri que a narrativa não precisa ser tão glamorosa assim, ela só precisa ser compassiva e carregar o sentimento de fraternidade que gerou a criação da história do Papai Noel.
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“... relacionada com a figura de São Nicolau de Mira, um bispo nascido na Turquia em 280 d.C. que ajudava as pessoas carentes. Ele herdou a riqueza de sua família e passou, então, a utilizar a herança para distribuir presentes entre os pobres, sobretudo para as crianças órfãs...”
Criei meus filhos com direito à fantasia, sem possuir o senso crítico necessário para perceber os privilégios, a falta de lógica, as soluções absurdas que criam medo e abonam permissões... Tudo adornado nas narrativas – que eu acreditava fossem pérolas.
Minha filha, por volta dos seus 5 anos, percebeu o absurdo da história de Chapeuzinho Vermelho que tinha uma mãe que era capaz de envia-la sozinha para uma floresta, onde havia um Lobo Mau - uma história de abandono: a vovó sozinha numa floresta e a garotinha jogada à sorte.
E a pedido da professora, numa atividade “Conte do seu jeito”, ela criou o seu próprio absurdo:
“...Chegando no bosque, encontrou um lobo que mordeu a Chapeuzinho Vermelho e a Chapeuzinho Vermelho se transformou e a Chapeuzinho Vermelho matou a sua avó e viveu com o lobo feliz da vida.”
Meu filho, também, por volta dos 5 anos, ao escutar a história de Joãozinho e Maria em que a bruxa queimou para sempre no caldeirão, protestou:
- NÃO! Ela tem amigas para ajudar! Cadê as outras bruxas, as feiticeiras? Ela não é sozinha. Todo mundo tem amigos.
Eu silenciosamente pensei, verdade! Tiraram a rede de apoio da bruxa.
E o que me restava nesses momentos era só sorrir e me render ao senso crítico deles.
Hoje sei que elas, minhas crianças, que já eram capazes de questionar as histórias infantis, nas escolhas que farão para criar os filhos, terão discernimento para lidar com essas narrativas, na vida de suas crianças.
Sei que minhas crianças terão mais sabedoria para selecionar o que vale e o que não vale no mundo da fantasia, pois uma coisa elas sabem: para educar suavemente, é preciso florir os caminhos da infância.
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“A magia, a maravilha, o mistério e a inocência do coração de uma criança são as sementes de criatividade que vão curar o mundo.” - Michael Jackson
FELIZ NATAL!
NAMASTÊ!
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O que seria de nós sem as fantasias que tornam tudo mais leve? Que bom ter coragem para sonhar em meio à dura realidade! Namastê!
Muito legal a reflexão que você faz em seu texto! Até eu fiquei aqui pensando… Feliz Natal e um
2024 cheio da presença de Deus. Beijocas, Carla Kirilos
Ameiiii!!! Que reflexão!
Lindo texto. Sempre gostei das contrações de histórias! Nunca, na infância, questionei esses valores, mas meus sobrinhos netos os questionam.
Nossa, muito lindo. Realmente é muita fantasia injusta, para mim especialmente na história do Papel Noel. As crianças menos afortunadas fantasiam na verdade coisas básicas para a sobrevivência e fantasiam brinquedos que não terão condições de ganhar, a decepção é grande, com isso crescem bem antes e começam a perceber muito cedo toda a injustiça e desigualdade que existe. Gosto muito do clima e dos enfeites de Natal, mas acho tão desigual que sofro.