PÁSCOA COM OURO E MINÉRIO DE FERRO

A família estava, na época, com um Pointer e, muitas vezes, tiveram que parar, porque o Pointer parava – foi aquele período de carro sem carro.

Para complicar, a escola do filho, de cinco anos, deu uma atividade para ele e para os pais: um final de semana em Ouro Preto, pesquisando sobre a vida e obra do artista Guinart.

O sábado amanheceu ensolarado, as galerias estavam preparadas para receber os pais e o dia colaborou com a tarefa.

Tudo pronto. Dia perfeito. Retorno.

Ao anoitecer, o carro começou a engasgar e a preocupação se manifestou.

Pararam um pouco no acostamento, para que o carro pudesse respirar e se acalmar.

E novo ritmo se estabeleceu na viagem: andava, parava, andava, parava...Enquanto a noite avançava.

Ao avistarem um posto de gasolina, onde caminhões de retirada de minério de ferro estavam estacionados, conseguiram entrar e abrir o capô.

Várias pessoas se aproximaram e davam opiniões e, entre elas, um rapaz simpático indicou um mecânico que vivia nas redondezas.

Ligaram, ele chegou bêbado e nada conseguiu descobrir.

Os filhos adormeceram no carro, enquanto ela observava o movimento dos caminhões que entravam e saiam do posto.

Numa determinada hora, o rapaz simpático retornou, trazendo seu caminhão - havia uma escala.

Minutos depois, reapareceu com os documentos e a chave do seu carro, que estava estacionado no posto, dizendo:

- Pegue a sua família e vá para a casa descansar. Deixe o Pointer aqui. Amanhã, vocês verificam o que aconteceu...

- Que isso?!! Você não nos conhece! Não podemos aceitar!!!

- Eu sei que amanhã, na hora em que meu turno terminar, meu carro estará aqui. Podem ir, é de coração.

O casal, sem saber o que pensar, se entreolhou. O moço percebeu:

- Já falei para não se preocuparem, só vou precisar do carro amanhã, quando terminar meu turno. Ele vai ficar parado a noite inteira. Levem os filhos para dormir em casa.

Atordoados, aceitaram.

No caminho, foram elaborando hipóteses:

- O carro é roubado!

- O moço precisa de algum álibi.

- O carro não é dele! Será de parente? Ou amigo?

E sem entender a gentileza daquele rapaz, chegaram em casa de madrugada e ao entrar na garagem:

- Seja lá o que for, estamos em casa, que o dia amanheça rápido para devolvermos esse carro.

Acordaram às seis horas, num domingo que era de Páscoa - momento de cafezinho especial, como tradição na família.

Ela, então, preparou uma cesta de café com mensagem e deixou no carro para ser entregue ao rapaz, como forma de agradecimento.

Ele saiu para devolver o carro e ela ficou rezando para que tudo desse certo.

Ao retornar para o posto, no meio da BR.040, a gasolina acabou.

Ele parou no acostamento e ligou para um amigo, pedindo socorro.

Enquanto esperava, a polícia rodoviária passou e pediu documentos.

Ele, com o coração acelerado, entregou e explicou que o carro não era dele e como havia parado em suas mãos.

A polícia verificou tudo, devolveu os documentos, dizendo:

- Tudo certo! Só avise para o proprietário que precisa colocar uma parcela do IPVA em dia.

Ele ainda meio atordoado, viu o amigo chegar com a gasolina:

- Vou com você, porque se não conseguir colocar o Pointer para funcionar, você volta comigo.

“Sabe, as coisas não precisam ser uma série de eventos infelizes.” - O Segredo

Porque, existem sim, pessoas inacreditáveis, solidárias e inesquecíveis.

Pessoas que passam na nossa vida amorosamente, sem nenhuma pretensão.

Esse episódio renovou os símbolos da Páscoa na família. Na sua nova composição passou a existir ouro e minério de ferro.

Que vidas tão abençoadas, como a desse rapaz – que renovam símbolos como o da Páscoa - estejam sempre presentes, todos os dias, em nossas vidas.

AMÉM!

“O Belo e o Feio...

O Bom e o Mau...

Dor e Prazer...

Tudo, afinal, são formas

E não degraus do Ser! “

Mario Quintana

FELIZ PÁSCOA / 2022

NAMASTÊ!

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