QUANDO O MAL ENCONTRA ESPAÇO
- CARLA KIRILOS
- 6 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de mar.
Há crimes que não deveriam existir. Tragédias que não deveriam ser esquecidas. Mas o mal sempre encontra espaço onde o amor esfria. Precisamos falar sobre isso.
A história que tanto me impactou e entristeceu veio à tona no dia 19 de fevereiro, em Tabira, sertão de Pernambuco. Entre ruas de terra e vidas simples, um grito sufocado ecoou sem ser ouvido. Arthur, com apenas dois anos de idade, não teve chance de escapar. Seus algozes estavam dentro de casa. Antônio Lopes Severo e Giselda da Silva Andrade, responsáveis por cuidar, foram os primeiros a ferir. Quando o menino chegou ao hospital, seu corpo já trazia marcas de uma violência que não começou ali – foi construída dia após dia, no silêncio da omissão.

A violência contra crianças já não choca como deveria. Todos os dias, pequenos como Arthur sofrem nas sombras de lares que deveriam ser refúgios, silenciados por mãos que deveriam afagar. O mundo, anestesiado, assiste e se acostuma. E não deveríamos nos surpreender, pois tão bem nos alerta a Bíblia: "E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará" (Mateus 24:12).
O amor esfriou. O coração endureceu. A empatia deu lugar à indiferença.
Antônio e Giselda não eram feras irracionais. Eram pessoas que um dia foram crianças. Mas, em algum ponto da vida, o coração endureceu e o amor morreu. O que os levou a tamanha brutalidade? Como alguém se torna capaz de ferir um inocente indefeso? Onde nasce tamanha crueldade?
A maldade não surge do nada. Ela cresce onde a ausência de Deus se instala. Ela se fortalece quando o certo e o errado perdem o significado e a vida, o valor.
O caso do Arthur não se trata apenas de um crime isolado. Quantas crianças sofrem dentro de suas próprias casas? Quantas vozes são caladas antes mesmo de aprenderem a falar? E a sociedade, infelizmente, acostumada ao horror, já não se abala como deveria.
E nós, como sociedade, onde falhamos?
Falhamos quando normalizamos a violência. Quando ignoramos os sinais. Quando fazemos vista grossa para uma criança machucada porque "não é problema nosso".
Falhamos quando permitimos que lares se tornem prisões. Quando deixamos que o medo cale os que precisam falar.
Falhamos quando não ensinamos que a justiça vem de Deus, e não das mãos humanas. A multidão que linchou Antônio não fez justiça – apenas perpetuou o ciclo do mal. Como Cristo disse a Pedro: "Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão." (Mateus 26:52).
A maldade tomou Antônio e vitimou Arthur. A vingança tomou a cidade. E, no final, quem foi salvo? Ninguém.
É muito duro reconhecer que a ausência de Cristo pode nos fazer monstros. Porque o mundo sem amor e a misericórdia é um lugar onde crianças morrem e culpados são massacrados sem chance de redenção. Que tristeza!
Quantos mais precisarão morrer até que a sociedade desperte? Até que deixemos de apenas lamentar e passemos a agir?
Se a maldade cresce na ausência de Deus, o que estamos fazendo para preenchê-la com o bem?
Precisamos resgatar os valores que dão sentido à vida em comunidade: amor, compaixão, respeito e justiça. Isso começa dentro de casa, ensinando nossas crianças que a vida tem valor, que o outro importa, que Deus é amor e que a maldade não pode ser tolerada. Passa pelas escolas, igrejas e instituições que devem formar não apenas mentes, mas corações e consciências. Requer coragem para denunciar, agir e proteger os vulneráveis. Se o mal se alimenta do silêncio e da omissão, que nossas vozes sejam fortes para proclamar o bem. Porque onde Deus está presente, o amor floresce e a iniquidade perde espaço.
Porque enquanto o mal encontrar espaço, novas vítimas surgirão. E novas multidões sedentas de sangue se levantarão. E a justiça verdadeira seguirá distante. Mais uma tristeza!
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Triste relato! Fico triste também por nós, que muitas vezes viramos o rosto para não ver a mão estendida e tapamos os ouvidos para não ouvir um grito de socorro, porém somos rápidos nas nossas reações justiceiras. Que o Amor, em toda a sua plenitude, possa nos trazer serenidade e empatia.
Que tristeza! Maldade, abuso e justiça com as próprias mãos são os frutos que podem colher aqueles que escolheram trilhar uma vida sem Deus. Muito bom seu texto! Vera Maria
Seu texto cala fundo em nossa alma: que monstros são estes que judiam dos indefesos?
Há que se começar dentro de casa, conforme você disse, ensinando que toda vida importa.
Parabéns pelo texto.
“O amor esfriou. O coração endureceu. A empatia deu lugar à indiferença.” Difícil compreender como a humanidade chegou neste ponto. Obrigada por seu texto. Fui buscar a notícia sobre o que houve e fiquei estarrecida! 💋 🥰 Patrícia
Concordo com exatamente tudo o que você escreveu. Dias difíceis! Ana Maria