QUE EXEMPLO TEMOS DADO?
Você leu?
Em maio deste ano, meu artigo aqui para o Blog trouxe algumas reflexões sobre as mídias digitais e sua influência sobre nossos comportamentos. Sugiro que leia, porque, quase dois meses se passaram, e hoje volto a escrever sobre um assunto que “bombou” na internet nos últimos dias.
![](https://static.wixstatic.com/media/44bda1_3936bcc41ab04fc5b36b08ea4c87f4c3~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_735,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/44bda1_3936bcc41ab04fc5b36b08ea4c87f4c3~mv2.jpg)
No dia 25 de junho, a atriz Klara Castanho divulgou uma carta pública nas redes sociais informando que havia sofrido um estupro tempos atrás e que, traumatizada, não denunciara o crime. Soube tardiamente que estava grávida e decidiu dar à luz ao bebê, mas o entregou à adoção. Mas essa história não veio a público por vontade própria da atriz, que havia preferido mantê-la no âmbito privado, mas sim porque ela se sentiu obrigada a se posicionar diante de uma série de informações divulgadas pelo jornalista Leo Dias em uma entrevista a um programa de televisão, e em seguida no portal Metrópole, com o reforço da youtuber Antonia Fontenelle.
Este caso, sem dúvida, aborda um dos maiores sofrimentos pelo qual uma mulher pode passar:
Ser vítima de violência sexual, e carregar no ventre o fruto da agressão. E, além disso, levanta uma série de problemas em torno da ética do jornalismo, da indústria das celebridades e do negócio das mídias sociais, que, novamente, eu gostaria de problematizar aqui.
A primeira pergunta que me fiz ao tomar conhecimento do caso foi: É de interesse público o caso específico de uma mulher/atriz que, engravidando após sofrer um estupro, decide entregar legalmente o bebê a quem deu à luz para adoção? Não. Por isso mesmo, existe o segredo de justiça, o sigilo médico/hospitalar (que no citado caso, foi quebrado sem nenhum pudor) e o sigilo de fonte, institutos pouco respeitados em nossa sociedade.
Ocorre que, em tempos de indústria das celebridades, “indústria de fofocas” e de “colunismo social”, potencializados pelas mídias digitais, prevalece a posição de que interesse público e “curiosidade do público” sobre a vida privada de celebridades, são a mesma coisa. E este é um dos principais problemas para reflexão.
Não são.
Interesse público diz respeito a informações que afetam a vida da totalidade ou maioria das pessoas, a direitos fundamentais, à ordem, à saúde e à moral pública. Reconhecemos que as separações não são tão claras, e que corremos o risco de silenciar o interesse público sobre aquilo que é “pessoal”. O que é claro, é que a audiência não deve ser a medida mais importante da avaliação sobre o interesse público ou jornalístico de uma informação. O ponto que merece destaque para discussão é: “o que é melhor divulgar, levando em conta quem nós somos e quem queremos ser enquanto sociedade?”
Mas, infelizmente, isto não conta, porque não “viraliza”, não gera “likes” e não repercute nas redes.
A segunda pergunta que me fiz foi: Que exemplo temos dado enquanto consumidores deste tipo de notícias, ou melhor dizendo, de “fofocas”? Não foi surpresa para mim a maneira como o público digital devorou o caso. Exposta por quem a deveria proteger, Klara foi ultrajada por comunicadores com extrema maldade, e apedrejada por milhares de covardes anônimos. Massacraram a jovem de forma implacável! A menina foi julgada e ofendida por milhares de pessoas, após ser exposta criminosamente por profissionais da saúde e da comunicação, sem vergonha ou moral, que rastejam pelo mundo promovendo a desgraça alheia. Klara sofreu uma violência tão grave, que a maioria das pessoas que a criticaram,
jamais entenderá.
Apesar disso, o caso não se trata de uma violência sofrida por poucas mulheres, visto que, o Brasil contabilizou, no ano de 2021, um estupro a cada dez minutos. No mesmo ano, 17 mil meninas com menos de 14 anos se tornaram mães. Números chocantes, e que retratam somente os casos denunciados às autoridades, ou seja, a minoria dos casos, visto que a maior parte das vítimas se sente constrangida em denunciar o crime, assim como ocorreu com a jovem atriz.
Se estivéssemos preocupados em viver em uma sociedade orientada pela ética e a moral, os “difamados” seriam os profissionais envolvidos no vazamento e na divulgação das informações e dados da jovem, e da criança. Mas, como não é o caso, parece que todos estão seguindo em frente, à espera do “furo” da próxima semana. Mesmo que seja uma tragédia pessoal. Discussões com um mínimo de racionalidade, que são a essência da esfera pública, passam ao largo disso. A era do esclarecimento foi extinta, em tempos de mídias sociais, por crenças obtusas.
Perdem as mulheres, perde a mídia, perde a sociedade.
Realmente, ando muito chocada e abismada com tudo que, em nome da notícia, extrapola o direito fundamental à privacidade, o respeito a dor íntima e particular das pessoas, e a falta de empatia e compaixão com o próximo.
Seria pedir demais que, em cada atitude nossa, aplicássemos o princípio bíblico descrito em Mateus 7:12 que diz: Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam.
E, diante de tudo que vimos, lemos e ouvimos, a pergunta que não se cala é:
Que exemplo temos dado?
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Está é uma triste realidade.
Triste verdade aqui: a mídia sem escrúpulo existe porque existem milhões de leitores que alimentam essa mídia.