SALTO CHANEL
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Fonte da imagem: Enjoei
“Uma vez eu li que a coisa mais bela em uma mulher era seu sorriso. Olhei as mulheres, de cima a baixo e pensei: mas não é mesmo! ...
Mais uma vez eu te flagrei sorrindo.”
Moises BertgesI
Tempo nublou às 16h na Praça da Estação.
Uma mulher negra, entre tantas presenças, começou a desfilar de lá para cá. Vem e vai. Vai e vem! Rebolando com seu salto Chanel.
Um conhecido passou:
- Ah quanto tempo!! Como vai a senhora? Saí com o céu azul e agora vai chover...
- Vai não! Já falei com Deus que é para Ele não deixar chover!
- É? E o que Ele respondeu?
- Mandou eu desfilar.
Desfilo nessa praça pra quem quiser ver. Desfilo no Rio de Janeiro também! Lá minhas fotos já chegaram. Todo mundo me conhece. Desfilo também nos Estados Unidos. Falam que pra ir pra lá tem que tirar um tal de passaporte. Mentira! Não precisei. Peguei um avião aqui e desci lá...
Entrei naquela maravilhosa conexão.
E durante um tempo, todos os meus sentidos eram para essa mulher que desfilava com seu vestido estampado branco e preto, sua sandália preta Chanel, sua pulseira preta, seu colar de bolinhas pretas e brancas, na cabeça, uma tiara de tecido preto segurando seu cabelo afro para que ela pudesse desfilar.
Naquela tarde, recebi de presente essa cena de alma que voa sem passaporte.
Uma mulher negra acreditando noutra possibilidade - uma de quem tem certeza de poder ir e poder voltar.
Naquela tarde de céu parte brigadeiro, parte nublado, onde eu, a ficção e a realidade estávamos no mesmo lugar, no mesmo dia, na mesma hora – num delicioso encontro.
“O falar não se restringe ao ato de emitir palavras, mas de poder existir.”
Djamila Ribeiro
E ela existia!
Uma mulher negra que negociava com Deus.
E foi ela e todo aquele palco da vida que me mostrou:
Que sobre todas as negações de um sistema inventado por homens brancos – que acreditam poder criar um modelo de vida para uns em detrimento de outros – é a vida que nos permite existir, independente de credo, de cor, de posição social, ou seja lá o que for que tenha sido estabelecido por humanos.
"Ainda hoje, quando olhamos para a história, glorificamos e romantizamos o colonialismo. Existe um discurso que impede que se pense criticamente a questão colonial.
O colonialismo é uma ferida que nunca foi tratada. Dói sempre, por vezes infeta, e outras vezes sangra.
...é preciso criar novos papéis fora dessa ordem colonial...”
Grada Kilomba
O direito de existir do outro, não está em nossas mãos.
O que se encontra em nossas mãos é o absurdo direito de acreditar que podemos criar critério de mais valia, de menos valia sobre vidas humanas.
NAMASTÊ!
A vida cotidiana fala e flui na medida em que conversamos com Deus.
Que relato lindo sobre as várias possibilidades de se existir ♥️
O que não faltou na mulher negra foi coragem. Já imaginou a cena, negra e desfilando sua elegância e mostrando que negro pode, sabe, é inteligente. O que um sistema, seja qual for, não faz com uma nação? E pobre do Brasil que nasceu Colônia. O poder do branco diminuiu o negro, o índio, e o dividiu em rico e pobre. E assim vai caminhando na tentativa de melhorar.
Conversar com Deus e desfilar. Duas ações para lá de genial! Amei! Beijocas, Carla Kirilos
Uma mulher negra que se deu o direito de poder existir sem regras!!!