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SIM, EU SOU VERDE E AMARELO E VERMELHO TAMBÉM

Foto do escritor: CARLA KIRILOSCARLA KIRILOS

Não sei o que você pensa e sente, mas confesso que estou profundamente incomodada com relação ao uso atual dos símbolos cívicos como: a bandeira do Brasil, as cores verde e amarelo e o Hino Nacional.


A dupla verde e amarela representa o Brasil desde 1822, com a proclamação da Independência do Brasil. D. Pedro I, naquela ocasião, retirou as cores azul e branca que identificavam a Coroa Portuguesa, adotando como cores imperiais brasileiras as que reportavam a sua origem e a da sua esposa: o verde dos Bragança e o amarelo dos Habsburgos. Uma nova bandeira para o Império, criada por Debret, já traz o desenho do retângulo verde e o losango amarelo, origem da bandeira republicana adotada em 1889.


No Brasil, o verde e o amarelo são tradicionalmente percebidos como índices de nacionalismo, delimitando a identidade de um território imaginado, que ultrapassa as fronteiras geográficas concretas. Dispõe-se aí uma espécie de costura, que atua no campo simbólico, unindo sujeitos de lugares e culturas diferentes em torno de um conceito – entre tantos outros possíveis – de enraizamento, identidade e pertencimento.


De forma bem específica, no caso brasileiro, o futebol tornou-se um campo de expressão especialmente significativo desse desejo, sobretudo, pela trajetória das seleções nacionais que conquistaram o título mundial por cinco vezes – a única nação a carregar esta distinção. É exatamente neste terreno das diferenças, que se desenrola esta história particular, e é pela capacidade de agregar o sentido do poder e do sucesso, que o verde e o amarelo tomam corpo no mundo cotidiano, como a dizer: “este é o grupo dos vencedores”.


Fica fácil trazer à memória como as cidades brasileiras, no período da Copa do Mundo, parecem mudar de cor por conta de um movimento cívico surreal, que contagia e unifica, com uma grande intensidade, diferentes classes sociais.


Historicamente, no Brasil, a Copa do Mundo tem sido a oportunidade mais significativa para reforçar o figurino verde e amarelo, que há muito tornou-se referência nacional e internacional. O fato de ser a única seleção que participou das 17 edições da Copa do Mundo e também a única pentacampeã, faz com que a equipe chegue sempre como favorita ao troféu e, consequentemente, reforçar, no imaginário social do país, que ele é bom e se destaca em algo importante.


No entanto, ao contrário do que ocorre no futebol, se comparada com outras nações, existe marcante distância do povo brasileiro com os símbolos políticos, partidários ou cívicos. A partir de um sentimento de baixa estima pelo Estado, desenvolve-se a dificuldade de associação espontânea positiva com os símbolos nacionais, principalmente com um Estado incapaz de oferecer o que habitualmente se considera sua obrigação evidente, como: educação, saúde e segurança.


A cultura social, nesse caso, o futebol, funciona separadamente do sistema político, o que provavelmente explique a facilidade da apropriação das cores verde e amarela como símbolo de Brasil no esporte. E, assim tem sido por muito tempo. Até que…


Quem disse que gostar de usar as cores verde e amarelo, ou gostar de cantar o hino nacional ou da bandeira do Brasil, são símbolos de estar associado a um lado político ou a uma figura política? Não aceito esta ideia, e nem posso abrir mão do meu direito de identidade com os símbolos que pertencem historicamente ao meu país. E que para mim, mesmo que não me reportem a uma sensação de orgulho extremo, são sim uma referência de identidade positiva com a minha pátria.


Preocupa-me muito o sentimento que tenho percebido nas ruas, das pessoas estarem com vergonha de usar o verde e amarelo, por receio de serem rotuladas como partidários de um lado político. Bem como, de usar o vermelho. Ou seja, chega a ser triste o nível de polarização a que estamos submetidos.


Assim, nesta época em que celebramos o mês da pátria, quero reforçar que sou sim verde e amarelo e vermelho, também, sem ter vergonha de afirmar isto. E que fique claro que isto não me associa a vertente política A ou B, porque o sentimento de nação que existe no meu coração é muito maior do que tudo isto. Não me envergonho de ser brasileira, apesar de estar muito triste e aborrecida com tudo o que estão fazendo com o Brasil, e de querer sim, mudanças.


O que peço? Nada de rótulos, por favor. Respeito a diversidade de pensamento e opinião não é retórica. Precisa ser prática constante.



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2 Comments

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Mariana Veloso Leite
Mariana Veloso Leite
Sep 16, 2021

Amei tanto seu texto, é isso. Somos coloridos.. Ultimamente os tempos tem sido tão desafiadores. Política, Pandemia.... Nada melhor do que o respeito para nos unir.

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Beth Bretas
Sep 15, 2021

Estamos passando por um período tão insano da nossa história,onde tantos direitos conquistados estão,novamente,em jogo e nadando num mar de insegurança tão grande que ser brasileiro está sendo pertubador.

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