SOB OS HOLOFOTES DA SUPERFICIALIDADE
Vivemos a era das vitrines digitais, onde influencers desfilam suas vidas perfeitamente editadas para milhões de espectadores. Com um deslizar de dedo, somos imersos em um universo repleto de poses ensaiadas, palavras cuidadosamente escolhidas e marcas estrategicamente posicionadas. A promessa de inspiração e autenticidade parece, muitas vezes, naufragar em um mar de superficialidades.
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Por trás desse teatro virtual, porém, algo mais profundo se revela: um vazio existencial que parece permear não apenas as vidas que admiramos, mas também as nossas próprias. Por que nos tornamos tão suscetíveis à ilusão de perfeição? Talvez porque, no fundo, tentamos preencher lacunas mocionais com futilidades que nunca realmente satisfazem. A superficialidade é um analgésico: oferece alívio momentâneo, mas jamais cura a dor da insatisfação.
Consumimos influencers como consumimos produtos. Na busca por significado, trocamos experiências genuínas por migalhas de conexões artificiais. Seguimos quem exibe, mas raramente questiona. É como se estivéssemos presos em uma vitrine, admirando aquilo que nunca tocaremos de verdade. E nesse ciclo de superficialidades, alimentamos não apenas o ego dos que seguem sob os holofotes, mas também o nosso próprio vazio.
Onde estão os grandes pensadores e teóricos que outrora eram os guias de nosso pensamento? Parece que, no barulho das redes, as vozes que traziam profundidade foram silenciadas ou relegadas à margem. Em tempos passados, eram eles os influenciadores que provocavam reflexões, questionavam verdades absolutas e inspiravam mudanças significativas. Agora, nos contentamos com conteúdos fáceis de digerir, mas que pouco ou nada nos transformam.
Exemplos disso não faltam. Em 2021, um influenciador digital amplamente seguido promoveu um "desafio" perigoso que consistia em ingerir grandes quantidades de um alimento altamente processado em um curto espaço de tempo, tudo para impressionar seus seguidores. O resultado? Diversas pessoas adoeceram ao tentar reproduzir o ato, com algumas necessitando de atendimento médico. Essa busca incessante por cliques e relevância pode levar não apenas ao próprio vazio do criador, mas também a consequências negativas para aqueles que o seguem cegamente.
O impacto disso se torna ainda mais alarmante quando consideramos o efeito sobre crianças e adolescentes, que estão em pleno desenvolvimento de suas identidades e capacidade crítica. Ao consumir incessantemente conteúdo superficial, esses jovens aprendem a valorizar a aparência sobre o conteúdo, a popularidade sobre a integridade, e a validação externa sobre a autoaceitação. A formação crítica é prejudicada pela exposição constante a padrões irreais de vida, beleza e sucesso, que muitas vezes são inalcançáveis e, pior ainda, irrelevantes para a construção de valores e habilidades realmente significativos.
Plataformas que deveriam ser ferramentas de aprendizado e conexão acabam se tornando arenas de comparação incessante e fonte de pressão psicológica. A Revista FT, publicou em setembro de 2024, o interessantíssimo artigo “Saúde Mental: Os impactos das redes sociais no desenvolvimento dos jovens brasileiros” onde os autores apontam a correlação entre o uso excessivo das redes sociais e o aumento dos índices de ansiedade, depressão e baixa autoestima entre jovens. Esses efeitos são amplificados quando os conteúdos consumidos promovem ilusões em vez de estimular a reflexão, o pensamento crítico e a empatia.
No entanto, o vazio não é privilégio das redes sociais. Ele é humano. É a falta de propósito, de conexão real, de paixões que transcendam curtidas e compartilhamentos. Quando deixamos de buscar algo maior – seja na arte, na espiritualidade ou no cuidado ao próximo –, o mundo virtual nos parece a solução mais acessível para distração. Mas é uma solução vazia, que nos esvazia ainda mais.
Talvez o problema não esteja apenas nos influencers, mas em todos nós. O que nos atrai tanto à vitrine? O que realmente buscamos por trás das telas? E, principalmente, o que estamos dispostos a fazer para preencher nosso vazio com algo que nos nutra – e não apenas nos distraia?
Talvez seja hora de questionar não apenas o conteúdo que consumimos, mas a vida que escolhemos viver. Se o vazio é humano, talvez a resposta também seja: mais conexões reais, menos ilusões digitais. Mais significados, menos aparências. E um pouco mais de coragem para enfrentar o vazio e transformá-lo em algo que valha a pena compartilhar, longe dos holofotes da superficialidade.
Como disse o apóstolo Paulo: "Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos" (2 Timóteo 4:3-4). Essa reflexão ecoa em nosso tempo, chamando-nos a buscar verdades que alimentem nossa alma, em vez de mitos que apenas distraem nossos olhos.
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Realmente é preocupante a relação das crianças e adolescentes com as mídias digitais. Qual será o preço a se pagar no futuro? Um primor o seu texto! Jordana
“No entanto, o vazio não é privilégio das redes sociais. Ele é humano. É a falta de propósito, de conexão real, de paixões que transcendam curtidas e compartilhamentos.”
Você realmente lê as pessoas não é, amiga? Que texto incrível! 🥰 Janete
Carla, seu texto está perfeito em tudo. Agora já estou esperando o livro. Mary
Mais um texto para mexer com a gente, Carla. Estou ruminando a ideia de “vivemos a era das vitrines digitais”. Em nosso próximo encontro filosófico vamos conversar sobre isto? Amei o texto! Beijocas, Luiza
A superficialidade e inconsistência da existência virtual tem afetado a humanidade em grande escala, algo que muda a percepção de vida humana a cada instante.