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SOBRE NOMES E APELIDOS E MUITO MAIS
Chegando em BH numa segunda-feira, horário caótico, sete minutos foi o tempo que aguardei para conhecer o encantador Elias.
Porque, entre idas e vindas BH / SP, percebi uma diferença básica entre os motoristas de Uber paulistano e mineiro...
- Boa noite!
- Boa noite!
Mala no porta-malas, cinto de segurança, som ambiente, motor ligado...
Ele olha para trás, sorrindo:
- Posso te falar uma coisa?
- Pode!
- ELI-ZA-BE-TH! Seu nome é lindo e forte. Se eu tiver uma filha, vou colocar esse nome.
- Ele intimida as pessoas, quando digo Elizabeth, percebo um impacto gestual expressivo...
- Porque é glamoroso! E eu não consigo entender como as pessoas conseguem colocar apelido para quem se chama Elizabeth. Você tem apelido?
- Tenho. E uma irmã é indignada por eu permitir. Ela diz que é um nome bonito demais para ser substituído....
- Eu também ficaria indignado. Aliás, se eu tiver uma filha Elizabeth, vou cuidar para que ela não aceite apelido, nem no meio familiar. Você não se incomoda?
- Então, só uma coisa me incomoda e eu corrijo, quando não escrevem Beth com “th”, porque não reconheço a Bete com “e”.
E rimos muito.
- Só um apelido você tem?
- Tenho vários.
- COMO ASSIM?
- Em ambientes diferentes, como se fossem versões minhas: um para família, um para os amigos, outro na área profissional e um especial para meus filhos.
- E como fica a Elizabeth?
- Para os momentos formais, aqueles em que exige o meu nome de batismo que contém todas as minhas versões.
- Que interessante pensar assim!
- Temos nossas versões!
- Então, Elizabeth, quando eu era mais jovem, não aceitava meu nome. Quando me perguntavam, respondia que era Felipe.
- É o nome do meu filho!
- Você registrou com “e” ou com “i”?
- Com “i”.
- O meu é com “e”.
- Seu nome é composto, então?
- Sim! Elias Felipe. E usei muito Felipe por não aceitar Elias – esse nome curto que não permite apelido e lembra gente velha.
E gargalhadas tomaram conta do momento.
- É muita responsabilidade colocar um nome no filho. Pensa! O filho precisa gostar do nome que o tornará conhecido.
- Verdade, mas agora casei e preciso ser visto como um adulto responsável e falo que sou Elias.
- Chegou a vez do Elias, então!
Novas gargalhadas.
- Nomes são especiais e exclusivos, precisamos pensar sobre isso. Tive sorte ao escolher Ana Carolina para minha filha e Filipe para meu filho, porque eles gostam e se identificam com o nome que carregam.
- Você tem dois filhos?
- Tenho dois adoráveis. Vou mostrar foto deles para você.
- Nossa! Sinto que a sua relação com seus filhos é muito bacana! Qual a idade deles?
- Tanto e tanto. Existe uma diferença de sete anos entre eles, porque ele veio para realizar o sonho da irmã que queria muito um irmão. Vendo a relação dos dois, sinto o quanto foi bom realizar o sonho dela.
- Acredito! Dá para sentir, ouvindo você falar...
- Sou mãe coruja, não da fábula! Os meus correm perigo, porque são maravilhosos mesmo!
- ELIZABETH! Qual sua profissão?
- Durante anos, fui Professora de Língua Portuguesa.
- NOSSA! Eu tive uma Professora de Português que implicava comigo e eu com ela. E não sei explicar o porquê, mas num determinado momento, nos encontramos numa festa, conheci o esposo dela, nós três conversamos bastante e, do nada, nos tornamos amigos. Coisa mais doida!
- Foi um encontro entre pessoas e não entre professora e aluno.
- Nunca mais implicamos um com o outro.
- Ser professor é uma responsabilidade muito grande. Nos tornamos seres inesquecíveis de forma positiva ou negativa, na vida dos nossos alunos.
- A gente não esquece professor. Eu posso não lembrar do nome, mas reconheço todos que reencontro. Você gostou de ser professora?
- ADOREI! Acho que exerci a profissão adequada. Sinto o carinho de quem já foi meu aluno, quando o reencontro.
E um leve silêncio passou como passa o vento.
- A vida é tão estranha!
- Como assim, Elias?
E ele, confortavelmente, desabafou:
- Eu não via a hora de tirar a carteira de motorista. Era meu sonho. Hoje, tenho a carteira, dirijo todos os dias, o dia inteiro neste trânsito caótico, mas a graça de ter carteira não existe mais.
- MESMO?!
As pessoas, não sei explicar, vivem batendo no meu carro e fugindo. Hoje bateram na minha lateral e seguiram como se nada tivesse acontecendo...
- QUE COISA, Elias!
- Chegamos, Elizabeth, mas antes quero ver a foto dos seus filhos!
- Claro!
- SÃO LINDOS! Seu filho é fotógrafo? Tenho a mesma idade dele.
- Então, ele ama, como eu, fotografar. Nesta foto ele estava fotografando e parou para ser fotografado com a irmã. Também como eu, adora dançar e já está se apresentando em palco, ele está praticando tudo que deixei para a próxima encarnação.
E rimos deliciosamente.
- Então ele é muito parecido com você, Elizabeth. E a sua filha?
- Parece muito comigo também! Ela, como eu, adora viajar, adora ter amigos ...Ela é esta lindeza que você está vendo!
- Ah! Então você gosta de fotografar, dançar, viajar e ter amigos! Foi um prazer te conhecer, Elizabeth!
- Foi um prazer também! Gratidão por este percurso tão agradável!
Rimos e nos despedimos daquela conexão gostosa:
- Boa noite, Elizabeth!
- Boa noite, Elias!
E só foi quando eu atravessei o hall de entrada, que me lembrei do Profeta Elias e sorri como se ainda estivesse com o adorável Elias Felipe.
O dia em que ele descobrir que o Profeta Elias ascendeu e caminhou pela Terra em forma de luz… Ele vai adorar ser Elias.
“...a vida é assim e segue seu curso mesmo quando o dorso se avizinha. Afinal, para domar a fera... não há herói que se alinha, mas com um pouco de sorte e conversa fiada quem sabe a fera durma um pouco mais e a estrada prossiga até chegar em Minas...”
NAMASTÊ!
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8 Comments
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Amo o meu nome ♥️
Transformar lãs em poesia é para poucos e você faz parte destes escolhidos.
Você consegue colocar poesia em tudo.É um ser abençoado que faz aliviar nossas emoções.
É incrível como entregar-se a uma conversa, nos exploramos!!! Amo o meu nome também e com o primeiro sobrenome!😘
Bons momentos,inesquecíveis de descontração e encontro.