SOBRE SIGNIFICADOS

“Dou valor às coisas, não por aquilo que valem, mas por aquilo que significam.”

Gabriel García Márquez

Confesso!

Não sei cozinhar. Mas ao descobrir que cozinhar tem muito a ver com carinho, amor, descobri, então, a técnica para salvar minha deficiência.

Na nossa cozinha havia uma mesa e sobre ela, uma luminária que, acesa, dava um toque todo especial sobre o ambiente.

Quando queria declarar carinho, explorava o detalhe do mármore preto da mesa, colocando pratos e copos especiais, guardanapos coloridos e saladas frias para um almoço ou um jantar muito simples.

E, quando as crianças, na infância, entravam com aquele olhar de encantamento, saltitando em torno da mesa, me sentia o máximo!

- NOSSA!!!! QUE LINDO!!!! MÃÃÃÃE,

o que estamos comemorando?!

E, entre as poucas coisas que sei fazer, está uma lasanha que a minha filha dizia não existir outra como a minha – e foi assim, que a lasanha esteve presente em todos os momentos especiais da nossa vida.

Um dia, sobre a mesa, estava a lasanha, a luminária acessa, os guardanapos, copos, talheres, pratos... e, por algum motivo, também estava nesse dia, uma filha com a sensibilidade à flor da pele.

Ela chegou, olhou para a mesa e disse:

- Mãe, se um dia, você fizer essa lasanha para um homem que não seja meu pai, vou sentar à mesa, mas não vou comer e não se assuste se eu jogar na cara dele...

E elevando a voz:

- VOCÊ ESTÁ PROIBIDA DE FAZER ESSA LASANHA PARA OUTRA PESSOA!

Eu olhei para a mesa, para a lasanha, para minha filha...

E foi nesse momento, que descobri os outros ingredientes que existiam na lasanha e qual era o real valor para a minha filha.

E também descobri que, sem que se perceba, valores são criados em momentos que parecem não registrar nada além do que se pretende.

Descobri que nossas escolhas carregam não só os nossos significados, mas também os significados criados pelas pessoas com quem escolhemos partilhar.

"Não há boa culinária se, à princípio, ela não é feita pela amizade a quem ela se destina".

Paul Bocuse

Lembrar dessa página da minha vida é lembrar da sensibilidade...

“...de uma mulher chamada Maria Lúcia Clementino Nunes, que sabiamente, convictamente, tradicionalmente transformou a cozinha mineira num atelier de arte:

Fiz mesmo foi a faculdade da vida, da observação, das perguntas sem fim... E até da pura intuição é que fui criando meus conceitos e minhas certezas.

Aprendi a ver a cozinha como um espaço cultural: lugar de misturas que atende as necessidades da nutrição e do prazer, que possibilita criatividade, que expressa crenças, que cria paladares.

Aprendi também que há ciência na panela: a mistura dos ingredientes reflete um longo aprendizado humano.

Dito isto, muito me perguntam:

- Qual o primeiro ingrediente que se põe na panela?

- O amor, respondo.

Depois dele, a compreensão de que nenhum ingrediente vai ao fogo por acaso. Cada um tem sua história, sua lembrança.”

Salve! Salve Dona Lucinha! Tão observadora, sensível e sábia.

Dizem que o melhor presente que podemos oferecer para alguém é cozinhar para essa pessoa e o significado disso, minha filha, tão jovem, já sabia.

Tão jovem, ela já possuía o olhar de Dona Lucinha.

NAMASTÊ!

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